DOSSIÊ COLETES AMARELOS: Sobre as manifestações dos coletes amarelos na França
Há poucos dias, o ministro do interior francês, Édouard Phillipe, anunciou uma nova proposta para taxação do consumo dos combustíveis fósseis na França. Isso, junto ao fato do valor dos combustíveis já estar muito elevado e do crescente custo de vida para os mais pobres na França, desencadeou uma série de manifestações por todo país desde o último dia 17 (sábado); movimento que ficou conhecido nacional e internacionalmente como Coletes amarelos (“Gilets Jaunes”).
O colete amarelo trata-se de um ítem de segurança obrigatório para os motoristas franceses carregarem em seus veículos e nos últimos dias foi a roupa que passou a identificar as centenas de milhares de manifestantes que bloquearam vias por todo o país. Mesmo tendo sido iniciadas a pouquíssimo tempo, as manifestações dos Coletes amarelos já são consideradas uma das maiores deste século na França devido à quantidade de ações diretas concomitantes por todo território nacional – conseguindo agregar pessoas das mais diversas faixas etárias e perfis ideológicos.
A característica comum entre os manifestantes é o fato de pertencerem às classes econômicas mais baixas na França, nas palavras do historiador Gérard Noiriel: “Eles são de origens modestas e da pequena classe média que possui pelo menos um carro”. Seu ponto de convergência está no descontentamento com as medidas de austeridade do presidente Emmanuel Macron que tem feito o poder de consumo das classes mais baixas despencar.
Nas gestões de presidentes anteriores, a França foi palco de diversas mobilizações massivas, espontâneas e sem direções políticas aparentes, como foi o exemplo do “Nuit debout”; a diferença é que, agora, há um objetivo central nítido entre os manifestantes: instaurar um clima de anormalidade no país por meio da interrupção do fluxo de automóveis até Macron recuar na proposta do novo imposto dos combustíveis.
O governo vem tentando lidar com o movimento de modo semelhante a como tratou a greve dos ferroviários (cheminots), no primeiro semestre, levando a situação em banho-maria e não recuando de sua posição. No entanto, o fato dos Coletes amarelos continuarem crescendo, mesmo sem lideranças; terem mais de 70% de apoio da população; e estarem contando com apoio de importantes centrais sindicais francesas (vide, Confederação Geral dos Trabalhadores – CGT); faz com que Macron e seu staff tenham mais dificuldade em manter uma postura rígida e inegociável.
As contradições nos ajustes do governo estão se tornando insustentáveis, pois não há como alegar o aumento das taxas dos combustíveis fósseis para “defesa do meio ambiente”, enquanto dezenas de linhas férreas de transportes coletivos são cortadas a nível nacional; de acordo com nota do NPA (Nouveau Parti Anticapitaliste:
“O pretexto da luta contra o aquecimento global é uma piada sinistra: esse governo, assim como os anteriores, está empurrando as classes populares para fora do centro das cidades e das zonas urbanas com aluguéis exorbitantes para salários baixos, liquidando as áreas de moradia social, obrigando-os a percorrer dezenas de quilômetros para encontrar hospitais e escolas. Ao mesmo tempo, um terço das ferrovias já foram suprimidas e os planos do governo preveem 8000 km a serem cortadas”.
Neste cenário, amanhã, dia 24, diversas ações, atos, manifestações estão sendo organizadas por toda França, incluindo um chamado à greve nas refinarias de petróleo francesas por parte da CGT. Este será o dia mais decisivo para os Coletes amarelos desde o início do movimento e as expectativas são otimistas sobre uma possível virada na correlação de forças entre população x Macron na França. A motivação dos manifestantes é a injustiça, segundo nota do France Insoumise; por esses e outros motivos, continuaremos atentos aos desdobramentos dessa nova onda de mobilizações daqui do Brasil e, desde já, prestamos toda solidariedade aos Coletes amarelos em solo francês!
Referências:
https://www.facebook.com/1093827263/posts/10216530500310363/