Clipping do Observatório Internacional (02/03/2019)
CLIPPING SEMANAL DO OBSERVATÓRIO INTERNACIONAL DA FUNDAÇÃO LAURO CAMPOS E MARIELLE FRANCO (03/03)
Na edição semanal do Clipping do Observatório Internacional da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, reunimos algumas das principais notícias, reportagens e artigos sobre acontecimentos de grande relevância na arena política internacional.
Mereceram ampla cobertura midiática neste semana: a cúpula fracassada de Trump e Kim Jong Un em Hanói, o depoimento no Congresso dos EUA de Michael Cohen (ex-advogado de campanha de Trumo), a arrancada inicial da candidatura de Bernie Sanders à Casa Branca, o assédio imperialista na Venezuela, a violação dos DDHH na Colômbia, referendo constitucional em Cuba, os novos capítulos do Brexit, a ascensão da extrema-direita nas eleições da Estônia, protestos em Milão contra o governo italiano de extrema-direita, as mobilizações na Argélia contra um possível quinto mandato do atual presidente, as acusações de corrupção que pairam sobre Benjamin Netanyahu, os conflitos entre Índia e Paquistão na região da Caxemira e a ofensiva diplomática da Arábia Saudita para “despoluir” sua imagem.
Na segunda parte deste trabalhos, selecionamos alguns pontos de vista de intelectuais e figuras públicas de esquerda sobre: a crise venezuelana, a necessidade de se abolir a classe de bilionários nos EUA, a conjuntura italiana e o acirramento de tensões no subcontinente indiano.
Uma excelente leitura internacionalista a todos e até a próxima semana!
Charles Rosa – Observatório Internacional (03/03)
NOTÍCIAS E ARTIGOS DA IMPRENSA INTERNACIONAL
Fracasso da cúpula entre Trump e Kim Jong
Editorial do The Guardian (28/02): “A diplomacia vaidosa de Trump cai por terra” (em inglês)
Há apenas um ano, muitos temiam que os negócios de Donald Trump com Kim Jong-un terminassem com um estrondo. Depois veio a cimeira de Singapura. Trump vangloriou-se de que eles “se apaixonaram” e que a Coreia do Norte já não era uma ameaça nuclear. O bromance não parecia sustentável. Agora, um seguimento em Hanói terminou em um suspiro, desabando sem a anunciada assinatura de pelo menos um acordo limitado.
NY Times (02/03): “Como a cúpula entre Trump e Kim fracassou: grandes ameaças, grandes egos, más apostas” (em inglês)
No final, Trump regressou a Washington sem nada – sem acordo sobre uma declaração de paz e sem proibição de produzir mais combustível nuclear – o que significa que o arsenal do Norte continuará a expandir-se enquanto as duas partes discutem. Só havia promessas de continuar a falar. Na sexta-feira, quando o Sr. Trump acordou na Casa Branca depois de sua viagem cansativa, a longa mesa de madeira que tinha sido movida para uma sala de reuniões do Hotel Metropole para a cerimônia de assinatura ainda estava ali, sem uso.
El País (28/02): “Coreia do Norte e EUA se chocam sobre as razões do fracasso da cúpula de Hanói” (em espanhol)
Um grande fiasco. A cúpula de Hanoi entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, concluiu sem acordo, sem roteiro sobre como proceder e com a credibilidade do processo de negociação consideravelmente abalada. Depois de que os líderes foram embora cada um para o seu lado do histórico hotel Metropole, lhes corresponderá agora às equipes negociadores dos dois bando colher os pedaços.
Depoimento de ex-adgovado de Trump ao Congresso
New Yorker (01/03): “O elemento mais surpreendente do depoimento de Michael Cohen” (em inglês)
Os testemunhos de Schwartz e Cohen vieram em meio a circunstâncias radicalmente diferentes – Schwartz não requereu, como Cohen aparentemente requereu, uma investigação federal, acusações de crime e, a partir desta semana, uma inabilitação para que sua consciência fosse descartada. Mas as histórias dos dois compartilham um grito de alarme com os danos que uma psique como a de Trump pode causar. As palavras de Cohen na quarta-feira foram, se não diretamente auto-interessada – nada que ele poderia dizer poderá mudar o fato de que ele está indo para a prisão – pelo menos obliquamente autossuficiente.
Começo de campanha de Bernie Sanders
CBS (02/02): “Bernie lança campanha em comício no Brooklyn” (em inglês)
O senador Bernie Sanders no sábado retornou ao Brooklyn, sua terra natal, para o primeiro comício de sua segunda campanha presidencial e procurou ligar seu histórico de classe trabalhadora às suas opiniões populistas que estão ajudando a remodelar o Partido Democrata. Ele previu que ganharia a indicação em um campo de rivais democratas e depois derrotaria o presidente Donald Trump, “o presidente mais perigoso da história americana moderna”.
Crise venezuelana
El País (28/02): “Rússia e China vetam na ONU a resolução dos EUA que exigia eleições na Venezuela e permitia a ajuda humanitária” (em espanhol)
O chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, disse na terça-feira que os EUA e seus aliados tratam de utilizar a crise humanitária como pretexto para intervir militarmente em seu país e culpou as sanções pela situação de penúria em seu país. O enviado norte-americano para a Venezuela, Elliott Abrams, voltou a dizer que a “solução para a miséria e a tirania do regime madurista” é convocar eleições.
Telesur (01/03): “Escritório da PDVSA será transferido de Lisboa para Moscou“, (em espanhol)
A vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez se reuniu com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na sexta-feira, em Moscou, como parte de uma visita oficial da Rússia para reafirmar compromissos bilaterais.
El Espectador (25/02): “Grupo de Lima não apoia intervenção militar”
Durante a instalação da XI reunião do Grupo de Lima, o chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, e o vice-chanceler peruano, Hugo de Zela, rechaçaram o uso da força para resolver a crise na Venezuela, mas asseguraram que buscarão aumentar a pressão diplomática contra o governo de Maduro.
Referendo Constitucional de Cuba
BBC Mundo (25/02): “Referendo Constitucional em Cuba: 5 pontos que explicam a polêmica pela nova Constituição”
O governo de Miguel Días-Canel submeteu neste domingo a referendo uma nova constituição que substituirá a primeira e -até agora – única Carta Magna da Revolução: a de 1976, na qual a ilha declarava sua “amizade fraternal” à URSS. O novo projeto de Carta Magna foi aprovado com o respaldo de 73,3% do padrão eleitoral, o que indica o menor nível de apoio ao governo nas eleições realizadas após 1959. Segundo informou a Comissão Eleitoral Nacional cerca de 86,85% das cédulas das pessoas participantes no referendo foram a favor da proposta do governo, enquanto 9% (706 000) votou pela sua rejeição e cerca 4% correspondeu a votos brancos ou nulos.
Direitos Humanos na Colômbia
El País (27/02): “HRW denuncia que a Colômbia promove militares suspeitos de participar de execuções extrajudiciais” (em espanhol)
O Executivo de Iván Duque colocou em postos-chave do Exército colombiano ao menos nove generais sobre os quais existem “evidências críveis” que os vinculam a execuções extrajudiciais de civis apresentadas como baixas em combate – conhecido como o escândalo dos falsos positivos -, segundo assinalou nesta quarta-feira a ONG Human Rights Watch (HRW).
Brexit
The Economist (26/02): “Labour e os Tories mudam táticas sobre Brexit” (em inglês)
Com apenas um mês de atraso em relação à saída da Grã-Bretanha da União Europeia, os dois principais partidos do país mudaram as suas posições sobre o Brexit. Theresa May, cuja máxima como primeira-ministra tem sido que “nenhum acordo é melhor do que um mau acordo”, ofereceu ao Parlamento a oportunidade de antecipar tal resultado. Entretanto, Jeremy Corbyn, que há muito resiste aos apelos dos membros do Partido Trabalhista para apoiar um segundo referendo, afirmou que, em algumas circunstâncias, o Partido Trabalhista apoiaria um.
Extrema-direita eleitoral na Estônia
El País (02/03): “O populismo à espreita (também) na Estônia”
“(…) Um novo elemento – e recorrente pesadelo para as instituições europeias – surgiu na campanha eleitoral no país báltico de 1,3 milhões de habitantes: o impressionante auge do populismo de extrema-direita. EKRE, o partido que o voto de protestos dos estônios, passou de 8,1% que obteve no pleito de 2015 para 16,4% nas sondagens para as eleições do próximo domingo. Hoje força residual com sete deputados no Parlamento de 101 cadeiras, EKRE, liderado por Mart Helme, ruma para se tornar o terceiro partido da Estônia.
Protestos na Itália contra a extrema-direita
DW (02/03): “Dezenas de milhares protestam contra a extrema-direita na Itália” (em espanhol)
Uma multidão saiu às ruas de Milão, no norte da Itália, neste sábado (2), em protesto contra políticas do governo federal consideradas excludentes e racistas pelos opositores. Segundo autoridades, cerca de 200 mil pessoas participaram do ato contra a extrema direita. A marcha, que reuniu italianos de todas as idades, percorreu alguns pontos da cidade, antes de aglomerar os manifestantes na praça central em frente à famosa Catedral de Milão.
Pesquisas euro-eleitorais na França
El Mundo (02/03): “Emmanuel Macron sobe nas pesquisas” (em espanhol)
Depois de 16 sábados de protestos de rua, Emmanuel Macron parece se encaminhar para uma vitória nas eleições europeias. Assim o prognosticam três pesquisas publicadas nos últimos dias. A lista presidencial arrebataria o primeiro lugar de Marine Le Pen, a mais votada em 2014 que liderava até o último Natal. As pesquisas BVA, Ipsos e Harris coincidem em quase tudo com variações mínimas nas porcentagens de intenção de voto. As três indicam a asfixia da direita tradicional e o estado-zumbi da esquerda clássica. Ecologistas e Insumisos se situariam entre os dois pilares tradicionais da V República.
Protestos na Argélia
The Guardian (02/03): “Polícia argelina usa gás lacrimogênio para reprimir manifestações de milhares pessoas contra presidente”
A polícia disparou gás lacrimogêneo para dispersar dezenas de milhares de manifestantes que marchavam pelo centro de Argel contra a candidatura de Abdelaziz Bouteflika a um quinto mandato, o maior protesto na capital argelina desde a Primavera Árabe. Outras marchas em cidades de todo o país, incluindo Oran, Constantine, Sétif, Tizi Ouzou e Bouïra, deixaram milhares de pessoas mais irritadas com a tentativa do presidente doente de prolongar seus 20 anos no poder, informou a mídia local.
Denúncias contra Netanyahu
Al-Jazeera (28/02): “Netanyahu será acusado por ‘suborno e fraude’”
O procurador geral de Israel disse que ele pretende indiciar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em um caso de suborno e dois casos de fraude e quebra de confiança. Netanyahu respondeu em um discurso televisionado na quinta-feira dizendo que as acusações de corrupção contra ele cairão “como um castelo de cartas”. Ele disse que pretende continuar como primeiro-ministro “por muitos mais anos”. O anúncio há muito esperado marca a primeira vez que um primeiro-ministro israelense sentado foi colocado em notificação oficial de acusação planejada e aprofunda a incerteza sobre suas perspectivas em uma corrida eleitoral apertada.
Ofensiva diplomática da Arábia Saudita
BBC Mundo (01/03): “O que busca Mohammed Bin Salman, o príncipe-herdeiro da Arábia Saudita, com sua ofensiva para conquistar a Ásia” (em espanhol)
Arabia Saudita embarcou numa ofensiva diplomática global para melhorar sua imagem. Nos últimos dias nomeou pela primeira vez uma mulher como embaixadora, e nada menos que nos Estados Unidos. E o líder de facto do reino, o príncipe-herdeiro Mohammed bin Salman, acaba de concluir um giro de alto perfil na Ásia, na qual se discutiram investimentos e acordos comerciais estimados em bilhões de dólares na China, Paquistão e Índia. Passaram-se nada menos do que cinco meses desde que o Ocidente descobriu com horror o estarrecedor e premeditado assassinato de Jamal Kashoggi, jornalista saudita crítico das políticos do reino, o que ocorreu no consulado da Arábia Saudita em Istambul, Turquia.
Conflito na Caxemira
The Guardian (02/03): “Caxemira: pelo menos oito mortos depois que o Paquistão e a Índia retomam as hostilidades”
Soldados indianos e paquistaneses atacaram os postos e vilarejos um do outro ao longo da fronteira volátil em disputada Caxemira, matando pelo menos seis civis e duas tropas paquistanesas, segundo autoridades. Tensões têm corrido alto desde que aviões indianos cruzaram para o Paquistão na terça-feira, realizando o que a Índia chamou de um ataque preventivo contra militantes culpados por um atentado suicida de 14 de fevereiro que matou 40 tropas indianas. O Paquistão retaliou, derrubando um avião de combate na quarta-feira e detendo seu piloto, que foi devolvido à Índia na sexta-feira no que Islamabad descreveu como um gesto de paz.
ARTIGOS E DEBATES DA ESQUERDA INTERNACIONAL
Crise venezuelana
Sin Permiso (24/02): “O fracasso do “Plano humanitário” de Abrams“, por Gustavo Buster (em espanhol)
A batalha da ajuda humanitária de 23 de fevereiro terminou com um importante fracasso da oposição pró-imperialista venezuelana. Nem a jornada de mobilização anterior, através do show Venezuela Aid Live organizado pelo multimilionário britânico Richard Branson, nem a tentativa de introduzir a chamada “ajuda humanitária” através de uma mobilização popular que transbordasse o controle fronteiriço da polícia venezuelana, alcançaram os níveis mínimos. Os informes desde o terreno e as numerosas reportagens filmadas são um testemunho pouco discutível do fracasso anunciado.
La Jornada (28/02): “É o petróleo, estúpido!“, por John Saxe-Fernandez (em espanhol)
A debacle hegemônica se agrava sob o crescente impacto dos limites geológicos -e financeiros- do gás de xisto. Nos Estados Unidos há gás natural para 95 anos apenas a partir de uma reserva potencial muito improvável. Com muita perfuração e sorte, apenas cerca de 21 anos (contados a partir de 2011) da reserva provável e comprovada e, na melhor das hipóteses, até 2022 da reserva comprovada. O declínio pronunciado e o alto efeito estufa do gás natural (em xistos ou não) é advertido e medido pelo geólogo Arthur Berman e Anthony Ingraffea sobre vazamentos de metano.
Rebelion.org (28/02): “A alternativa seria a guerra” – Entrevista com sociólogo Emiliano Terán (em espanhol)
Se Trump consegue colocar um novo governo na Venezuela, seria um desastre. Ocorreria uma intensa transformação neoliberal com reformas dolorosas, o saqueio dos recursos naturais e a perseguição dos movimentos sociais e de esquerda, que seriam responsabilizados de tupo pela crise e a miséria. Tudo isso deve ser visto no contexto de giro à direita que está sendo produzido atualemente na América Latina, e que fortalece o eixo pró-ianque na América do Sul. A resistência e as lutas sociais no país entrariam numa nova fase, muito difícil.
EUA
Jacobin Magazine (01/03): “Abolir a classe dos bilionários“, por Luke Savage (em inglês)
Longe de ser uma necessidade ou mesmo um corolário basicamente tolerável das sociedades prósperas, o açambarcamento obsceno da riqueza por um pequeno número é uma expressão de profunda e permanente injustiça. A classe bilionária é o equivalente moderno e capitalista da elite feudal fundiária: adquirir suas fortunas através da extração exploradora de rendas e exercer sua imensa riqueza e poder para apertar seu controle ilegítimo sobre a política e a economia.
Protestos na Argélia contra perpetuação no poder do presidente
Rebelion.org (28/02): “Quem está alimentando os massivos protestos na Argélia?“, por Brahim Oumansur (em espanhol)
A longevidade da presidência de Boutflika, que corre o risco de se prolongar mais de duas décadas caso chegue a um quinto mandato, tem desencadeado a ira dos argelinos, além de gerar um sentimento de cansaço, quando não de humilhação, como resultado da má saúde do presidente. Postular-se para um quinto mandato é demais aos olhos de um grande segmento de argelinos.
Situação política na Itália
Sin Permiso (24/02): “A esquerda é lenta, Salvini corre. A Itália acabará como o Brasil“, entrevista com Domenico de Masi (em espanhol)
O sociólogo Domenico De Masi já analisou o Movimento 5 Estrelas, já levou a cabo estudos para o mesmo, e já elogiou seu potencial. Posteriormente, foi o primeiro a avisá-los de que, ao entrar no governo, seriam comidos vivos. De Masi acaba de publicar Il mondo è ancora giovane, um livro que esboça esperança. Essa esperança, não obstante, leva uma advertência final, e é válida com uma condição: “que não entremos de cabeça no fascismo”.
Conflito na Caxemira
International Viewpoint (25/02): “Colocar fim a um “ciclo pernicioso”! Não à guerra“, por Jammu Kashmir Awami Workers Party , Radical Socialist (em inglês)
O terrorismo não é uma referência a qualquer categoria de pessoas, mas a um método, técnica ou táctica específica que envolve a morte ou ferimentos de civis inocentes ou, fora de uma batalha ou zona de guerra, mesmo de soldados que, em virtude da natureza distinta do ataque, ficam completamente indefesos. Precisamente porque o terrorismo é um acto deste tipo, pode ser e é praticado pelo indivíduo, um grupo ou colectividades maiores, como os aparelhos do Estado.