Luta de classes e protesto social na pandemia de coronavírus
FONTE: New Politics | 18/05/2020 | TRADUÇÃO: Charles Rosa
Durante os últimos dois meses, Estados Unidos sofreram 90 000 mortes, enquanto 36 milhões de trabalhadores solicitaram o seguro-desemprego, quase 25% da força laboral. O presidente Donald Trump agora quer reiniciar a economia porque teme perder as eleições de novembro se continua a Segunda Grande Depressão. As empresas também estão ansiosas por obter lucros, e muitos trabalhadores desempregados querem ganhar salários, mas temem se colocar em perigo a si mesmos e as suas famílias. A luta por lugares de trabalho-seguros se converterá na força impulsionadora do ativismo nas próximas semanas.
Durante a pandemia, os governos federais e estaduais e as empresas públicas e privados não puderam proteger a saúde dos trabalhadores e suas fontes de renda. Os trabalhadores essenciais que se viram obrigados a continuar trabalhando sem a proteção adequada de segurança e saúde protestaram ou abandonaram o trabalho em centenas de greves selvagens, em sua maioria pequenas, breves e localizadas [1]. Alguns destes, como uma pequena greve no armazém da Amazon em Nova York, obtiveram publicidade mas não conquistaram seguidores massivos. Outras obtiveram um maior impacto.
As enfermeiras e outros trabalhadores do hospital organizaram manifestações para exigir, máscara, aventais e ventiladores. Muitas enfermeiras protestaram em seus hospitais, mas algumas da National Nurses United foram à Casa Branca para exigir que Trump invocasse a Lei de Produção de Defesa (DPA) para ordenar a produção de máscaras, ventiladores e kits de testagem de coronavírus [2]. Enquanto estavam ali, numa emotiva homenagem, leram os nomes de seus companheiros de trabalho assassinados pelo vírus [3]. O governo federal e os Estados e os gerentes de hospitais responderam fazendo maiores esforços para proporcionar subsídios aos trabalhadores.
As enfermeiras não estavam sozinhas. Em meados de março, os professores ameaçaram entrar com pedido de licença médica coletiva para forçar o fechamento das Escolas Públicas de Nova York quando o prefeito Bill de Blasio e seu próprio sindicato, não o fizeram [4]. No final de abril, cerca de 50 trabalhadores abandonaram o trabalho na empacotadora de carne Smithfield em Nebraska por questões de saúde e segurança. O governador prometeu levar testes e rastreio de contatos na firma. Em Washington, onde existe uma longa história de greves dos trabalhadores, centenas de empacotadores de frutas paralisaram suas atividas por condições de trabalho mais seguras e adicionais de periculosidade.
Alguns sindicatos proporcionaram alguma liderança. O Amalgamated Transit Union (ATU) – sindicato dos trabalhadores do transporte público – apoiou os motoristas de ônibus que entraram em greve por sua saúde em Detroit , Birmingham, Richmond e Greensboro. [5] O Sincatos dos Carpinteiros, que representa 10 000 trabalhadores em Massachusetts, convocou seus membros para greve de 5 de abril em virtude das preocupações sobre Covid-19 e não encerrou a greve até 20 de abril. [ 6 ]
Muitos sindicatos emitiram declarações pedindo aos patrões e ao governo que protejam seus membros, além de proporcionarem informações úteis. E os sindicatos também pressionaram o Congresso. Mas, em geral, não se tentou elevar o nível de luta de classes como poderia ser possível.
Alguns sindicatos capitularam para reabrir fábricas e reativar a produção, apesar de estar claro que pode colocar em risco a saúde de seus membros. Já em 5 de maio, United Auto Workers reconheceu que a companhia tinha a autoridade para reativar em maio nas plantas GM, Ford e Fiat-Crhysler sem fortes garantias de proteção da saúde.
A maior organização de esquerda, o Democratic Socialists of America, já ativa entre os sindicatos de enfermeiras e docentes, uniu forças com o Sindicato Unificado de Trabalhadores Elétricos conhecido como UE, e juntos criaram o Emergency Workplace Organizing Committee. [7] EWOC está capacitando centenas de organizadores voluntários para ajudar os ativistas do lugar de trabalho a se organizarem. DSA também começou a organizar uma rede trabalhadores de restaurante em várias cidades.
A pandemia e o lockdown passaram a fatura, mas agora brindam a oportunidade reconstruir o movimento operário estadunidense de baixo para cima. Embora os desafios sejam grandes, a resistência da classe trabalhadora está crescendo e os socialistas com uma estratégia de base e perspectiva de luta de classes estão envolvidos na luta.
Dan La Botz é um jornalista e militante do DSA-Nova York.