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Por Robert Fisk – 27/04 – The Independent | Tradução: Charles Rosa

Michael Richard Pompeo está voltado quase tão convincente como Donald Trump. O que lhe falta de loucura compensa isso com a ignorância voluntária ou simplesmente com a velha hipocrisia. .

Pode-se culpar Trump por sua incapacidade mental quando entrega o Oriente Médio a seu estúpido genro. Entretanto, Pompeo sabe o que está fazendo. Assim que ali esteve novamente esta semana, sugerindo que os iranianos esta semana, sugerindo que os iranianos estavam rompendo uma resolução solene da ONU ao lançar um míssil balístico, enquanto ignorava uma resolução da ONU muito mais histórica mas igualmente solene que exige a retirada das tropas israelenses do território palestino ocupado. Ao ver sua atuação oportunista, sabia que Pompeo se sairia com a sua.

Nenhum jornalista deu a mais mínima indicação de que poderia haver um pequeno duplo padrão na repentina preocupação do secretário de Estado de Estados Unidos pela adesão às normas da ONU às poucas horas de declarar alegremente que é “uma decisão israelense” se quer anexar grandes partes do Cisjordânia ocupada. Além disso, a Resolução 2231 da ONU, que insta o Irã a se abster até oito anos de trabalhar em mísseis desenhados para lançar armas nucleares, tem somente cinco anos. A resolução 242 da ONU, aprovada imediatamente depois da guerra do Oriente Médio de 1967, na qual Israel capturou Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Gaza, as Colinas de Golã e a península do Sinai, tem mais de meio século de antiguidade. Pó. Teias de aranha.

Não é que Pompeo não entenda as implicações de tudo isso. O inútil “Acordo do século” inventado pela Administração de Trump permite a Israel a anexar o Vale do Jordão, em 30% de Cisjordânia e aceita a soberania israelense sobre todas as colônias israelenses ilegais construídas em terra árabe em troca de um pacote de dinheiro efetivamente para os palestinos. Permite mais roubos de terras depois de quatro anos e aceita a soberania israelense sobre toda Jerusalém, garantida pelo traslado da embaixada dos EUA de Tel Aviv a Jerusalém há dois anos.

A esquálida nova “coalizão” israelense, na qual Benny Gantz traiu a seus próprios partidários e eleitoras ao acordar uma presidência com Benjamin Netanyahu tal como jogo de cadeiras, simplesmente proporciona o mecanismo através do qual a liderança israelense pode promulgar a execução final da solução de dois estados. Em julho, a ambos os homens se lhes permitirá reclamar vastas áreas do território árabe destinadas ao Estado palestino. A espinha dorsal da aspiração palestina a um Estado finalmente se romperá.

Sempre supondo que tal “coluna vertebral” ainda exista quando seu líder ancião e enfermo Mahmoud Abbas, de 84 anos – cuja “presidência” continua ilegal deveria ter expirado há 11 anos – cuja resposta a este ultraje territorial é que tomará as “medidas apropriadas” se a anexação continua. Sua lamentável resposta, sua aparição em seu escritório presidencial de madeira em Ramallah com um tradutor adequadamente lúgubre, proporcionou uma cápsula do tempo distorcida de cada ditador árabe que pretendia ser o Rei Lear.

Mas inclusive a decrépita ameaça de vingança do velho monarca shakesperiano – “o que são, no entanto, não sei, mas eles serão os terrores da terra” – é mais eloquente que a resposta “apropriada” de Abbas, que sem dúvida os fará tremer de medo em Jerusalém e Washington.

Gantz, mais Fausto que Lear, disse em repetidas ocasiões que as futuras apropriações de terras dever ter “consentimento internacional”, agora reduzido a “discussões internacionais”. E todos sabemos o que isso significa.

Adeus à Resolução 242 da ONU. Adeus ao Acordo de Oslo. Adeus à solução de dois estados, aos “roteiros” e as iniciativas da UE, a todos os “planos de paz” de Tony Blair, vocês recordam? E especialmente adeus a décadas de chamamentos de “moderação” dos presidentes de Estados Unidos a Israel.

Ainda quando inclusive Hanan Ashrawi, uma brilhante graduada em Literatura pela Universidade Americana de Beirute e única representante sobrevivente e obstinadamente inspiradora de seu povo, somente fala de “determinação inquebrantável” dos palestinos para “confrontar” a agenda israelense-estadunidense de anexação, sabemos que Netanyahu, Gantz, Trump e Kushner, e obviamente Pompeo, vão sair com a sua.

Me encantou a discrição de Pompeo, quando falou do “entorno privado” [sic] no qual “trabalharemos estreitamente com eles [os israelenses] para compartilhar nossos pontos de vista sobre isso [a anexação]”. O que quis dizer é que os gêmeos políticos israelenses algum dia aparecerão em Washington com um conjunto de mapas de seu projeto colonial contínuo em Cisjordânia e a nação mais poderosa do mundo dará – humildemente – sua aprovação.

Porque eso es exactamente lo que dijo Pompeo en palabras nunca pronunciadas por un presidente de los Estados Unidos y mucho menos por un secretario de Estado. Palabras suaves, traviesas y aburridas que pasarán a la historia para siempre como la abolición de toda responsabilidad de Estados Unidos en la paz en el Medio Oriente.

«Quanto à anexação de Cisjordânia, os israelenses finalmente tomam essas decisões, assim que essa é uma decisão israelense”. Isso é o que disse Pompeo. E a palavra chave foi “finalmente”. Os israelenses sempre terão a última palavra. Sempre o fizeram, obviamente. Porém agora sabemos que sempre o farão.

Esqueçam-se da “coalizão” israelense e o sim ou não eleições israelense agora e esqueçam-se os pequenos problemas legais de Bibi. Esquecem inclusive, por uma vez, o coronavírus. Este nem sequer é o cravo proverbial na ataúde da paz palestino israelense. Apropriadamente para nosso tempo, toda a aspiração palestina de dignidade, liberdade e condição de Estado fez selada numa bolsa como um bacilo e rapidamente enterrada. Daí adiante nunca poderá ser aberta. Não haverá ressurreição. Por razões de saúde e segurança, a menção de uma solução de dois estados está enterrada para sempre. Não há lamentações no túmulo, ao que parece.

E em meio de tudo isso, se supõe que devemos nos preocupar pelas ameaças tuitadas de Trump contra as canhoneiras iranianas e tomar em sério o ditado imperial de Pompeu pelo qual o lançamento de um míssil pr parte do Irã para pôr um satélite – sim, estou seguro de que era um satélite militar – no espaço é uma provável violação da Resolução 2231 da ONU. Mas esta resolução foi paralela, tal como soa, com um acordo nuclear do que logo Trump pessoalmente renegou.

E acaso a resolução 242 da ONU depois do conflito do Oriente Médio de 1967 não enfatizou especificamente “a inadmissibilidade da aquisição de território pela guerra” e a necessidade de trabalhar por “uma paz justa e duradoura na qual todos os estados da área possam vivem em segurança”. Pois claro que sim. Mas em 1967 não havia um Estado chamado Palestina. E aina não há isso. Há pessoas chamadas palestinas, obviamente. Mas e sua terra? Bom, essa é agora “uma decisão israelense”. Ponto final.

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