Historiadora sandinista: “Orteguismo” pulverizou as conquistas da revolução
FONTE: EFE | 15/07/2020 | Tradução: Charles Rosa
Managua, 15 jul (EFE).- O “orteguismo”, a corrente sandinista que dirige o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, pulverizou as conquistas da revolução que, há 41 anos, derrubou com a força das armas, o apoio do povo e a pressão internacional a dinastia dos Somoza, disse à agência EFE a ex-guerrilheira e historiadora Mónica Baltodano.
Baltodano, autora do livro “Memórias da Luta Sandinista”, destacou que o “orteguismo”, que se encontra no poder desde janeiro de 2007, se converteu numa “ditadura” que “demoliu” a institucionalidade e submeteu o Exército e a Polícia Nacional.
“É certo que a reconcentração das terras, as privatizações, o capitalismo selvagem começaram a se restabelecer antes, mas o orteguismo terminou de pulverizar as conquistas da revolução”, sustentou Baltodano (León, Nicarágua, 14 de agosto de 1954), agora dissidente.
“Não somente pelos retrocessos democráticos, na justiça e na liberdade, mas porque as últimas transformações da revolução foram demolidas”, argumentou a ex-guerrilheira, ao fazer um balanço a propósito do 41º aniversário deste acontecimento histórico que se cumpriu no último domingo, 19 de julho.
ÚNICA MISSÃO: CONSERVAR O PODER
No juízo da historiadora, as organizações populares que lutaram pelo povo foram “corporativizadas e se movem ao compasso dos interesses de cúpulas, cuja missão é a manutenção do regime” no poder.
Universidades públicas que passaram do pensamento crítico a reprodutoras do relato “orteguista”, não há participação cidadã, somente controle partidário, e as autonomias municipais e regionais foram suprimidas de fato, exemplificou.
“A Polícia Nacional convertida num aparato repressivo e criminoso do orteguismo; o Exército convertido em peça estratégia para sustentar o ditador no poder”, continuou.
Portanto, segundo Baltodano, da revolução “resta apenas o exemplo de homens e mulheres que lutaram, que não se renderam, que renunciaram a tudo, inclusive a sua própria vida por uma Nicarágua livre”.
Esse exemplo, acrescentou, se fundirá com o da juventude das jornadas de abril de 2018 que se manifestaram contra Ortega por causa de controvertidas reformas na seguridade social, e que foram silenciadas pelo Governo à força.
“FSLN GOLPEADA ECONÔMICA E POLITICAMENTE”
Para Baltodano, atualmente o regime de Ortega está golpeado econômica e politicamente, e essas são as razões pelas quais a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) comemorará o 41º aniversário da revolução de maneira virtual.
“Eles não queriam correr nenhum risco de ter uma convocatória reduzida, porque hoje há muito inconformismo interno pela forma criminosa como geriram a pandemia (de Covid-19), pela falta de medidas paliativas frente ao drama das pessoas que perderam seu emprego”, observou.
Se repudia também que os preços do combustível, a energia, e a água “estão disparados, já que se sabe que eles (Governo) estão lucrando com estes bens”, indicou.
“Tudo isso se soma à repulsa de um setor de suas bases pelos crimes de lesa-humanidade, pela repressão sustentada, pelos presos políticos e por julgamentos mentirosos e absurdos que estão se sucedendo” a partir da explosão social de abril de 2018, apontou.
Descartou que o Governo sandinista tenha suspendido o ato de massas com motivo da revolução “por responsabilidade”, porque de igual forma segue “promovendo atividades de todo tipo querendo aparentar normalidade, em negação total das estatísticas de mortos e afetados”.
O que de fato acontece, disse Baltodano, é que Ortega, que não participa de atos públicos desde fevereiro passado, “tem terror ao contágio, e não quer arriscar sua família”.
“Em outras palavras, somente lhe importa sua própria saúde. Seja como for, o fato (comemoração virtual) também tem um efeito simbólico, a decadência do regime e da FSLN”, ilustrou.