PARABENS REVOLUÇÂO ARGELINA
No dia 5 de julho de 1962, a Argélia acedia a independência após anos de luta sangrenta imposta pelo França. Nascia a esperança de um mondo novo na África, em ressonância a revolução vietnamita na Ásia e cubana nas Américas. A revolução argelina teve seus altos e baixos num percurso caótico e acabou sendo confiscada e traída pela burocracia e a corrupção., ante a sinistra comedia do presidente Bouteflika e de sua sucessão.
Os manifestantes do Hirak saíram nas ruas reclamar “fora todos”. Muitos fizeram referência aos anos gloriosos da luta pela independência e receberam o apoio de figuras heroicas, a começar pela icônica Djamila Bouhared (85 anos).
Para comemorar o aniversario desta revolução que persiste no coração do seu povo e dos militantes do mundo inteiro, traduzimos esse bilhete do romancista e historiador Mohamed Rabha http://redouanezizi.over-blog.com/2020/07/5-juillet-1962-05-juillet-2020.html?
No 5 de Julho de 1962 – 132 anos após a tomada de Argel pela Força Expedicionária Francesa – o povo argelino tomou as ruas para celebrar com alegria o fim da servidão colonial.
É o Aïd (festa muçulmana marcando o fim do Ramadá). Os jovens escoteiros, a maioria dos quais cresceram na guerra, cantam Mawtini (My Minha Pátria) sob as bandeiras.
Milhares de bandeiras verdes e brancas com a estrela vermelha e a lua crescente são desfraldadas no vento da liberdade.
Milhares de peitos proferem o grito de Yahia el Istiqlal, esta independência adquirida ao preço de sangue e lágrimas.
No 5 de Julho de 1962, passaram cento e trinta e dois anos de humilhação. 132 anos de pilhagem e saque. 132 anos de fome organizada, doença e miséria para os “nativos”.
132 anos marcados por atos de genocídio cometidos pelas tropas coloniais do sinistro General Bugeaud e dos seus seguidores.
5 de Julho de 1962 marcou o fim da lei do mais forte, o fim da segregação racial.
O fim de um regime abominável enche de alegria, mas um pensamento vai para aqueles que não voltaram da longa guerra da independência. Aos milhares de pessoas desaparecidas. Aos mortos sem enterro. Foi pago um pesado tributo. Um milhão e quinhentos mil argelinos mortos, centenas de milhares de inválidos, viúvas, órfãos, mais de dois milhões e quinhentos mil habitantes das montanhas deportadas, milhares de aldeias arrasadas até ao chão.
Apenas alguns dias após o festival, iniciou uma luta fratricida pelo poder, sustentada por orientações político-ideológicas opostas, que mais tarde se revelariam. Felizmente, o povo argelino, que ainda não tinha curado as suas feridas, saiu à rua em 31 de Agosto de 1962, e gritou Sabaâ snin baraket! (Sete anos é suficiente!). Vamos combater a miséria! Queremos viver!
Isso foi há 58 anos atrás.