FONTE: Revista Movimento |18/09/2020
A manifestação convocada hoje pela TLS, MES e MST em Roraima, teve a presença do Juntos, Setorial de Mulheres do PSOL-RR Marielle Franco e Levante Popular da Juventude para questionar o significado da presença de Mike Pompeo em território brasileiro. Como Secretário de Estado dos EUA, representa o que tem de mais desumano e nefasto na política do Trump. Os embargos econômicos impostos pelos EUA à Venezuela foram fundamentais para o acirramento das crises e promoção da imigração venezuelana que vem acontecendo desde 2017.
A agenda que Mike Pompeo veio cumprir em Roraima envolve justamente uma pauta sobre a situação da Venezuela. Não podemos aceitar e nem ser ponta de lança de uma intervenção imperialista. A América Latina precisa estar organizada através da luta dos trabalhadores contra o massacre que seus povos vêm sofrendo em nome de um neoliberalismo que coloca a população pobre cada vez mais na miséria.
Pompeo representa o que há de pior na política dos EUA. Ele mesmo disse na Universidade do Texas A&M em 2019, quando era diretor da CIA que “mentimos, enganamos e roubamos” e que essa é a glória do experimento americano. O Brasil não pode ser cúmplice do que Pompeo enxerga como glorioso.
É absurdo ver o Brasil abrir as portas para um cidadão como este. O Presidente Bolsonaro reivindica tanto um nacionalismo, patriotismo e, contraditoriamente, permite que intervencionistas estrangeiros operem através do país. É o mesmo falso nacionalismo que concedeu tarifa zero para importação do etanol dos EUA, em detrimento da produção brasileira de etanol que estava com estoque.
A manifestação foi marcada por forte intimidação militar, com carros subindo e descendo o meio-fio próximo aos militantes presentes e, até mesmo, colocando o carro inteiramente sobre a calçada e com permanência de militares próximos aos pertences dos manifestantes. Gritos de ordem, notas à imprensa, produção de cartazes e conversas com os transeuntes marcaram a organização do ato. O recado foi dado com uma oposição de esquerda organizada, marcando bem o terreno de que não há unanimidade na receptividade de intervencionistas estrangeiros no Brasil e, especificamente, em Roraima.
Kezia Lima é historiadora, mestre em Sociedade e Fronteiras pela UFRR.