“Minha demissão foi um ato de perseguição política”: entrevista com o policial antifascista Áureo Cisneiros
Via Brasil de Fato
Ex-Presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (SINPOL), Comissário de Polícia e candidato a cargos eletivos pelo PSOL, Áureo Cisneiros foi desligado dos quadros do estado através de um comunicado oficial publicado no Diário Oficial do Estado. Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, Áureo explica como foi a demissão, quais teriam sido as motivações para ela e falou sobre a importância da liberdade sindical e da defesa do Estado democrático de direito. Confira:
Brasil de Fato: Áureo, como você observa a sua demissão da Polícia Civil por parte do Governo do Estado de Pernambuco?
Áureo Cisneiros: A minha demissão sem dúvida nenhuma foi um ato de perseguição política do governo do PSB, do governador Paulo Câmara. Desde a redemocratização nenhum sindicalista do estado de Pernambuco foi demitido. Todos os processos que o governo de Pernambuco colocou contra mim foram processos por atividade sindical, porque fiz greve, paralisações, fiz críticas ao Pacto pela Vida. Faço o que o sindicalista tem que fazer, reivindicar, fazer críticas e apontar que havia uma deficiência na segurança pública. Temos um modelo de segurança pública ultrapassado, que não tem projeto político para as questões sociais. É muito repressivo o projeto do Pacto pela Vida.
Toda essa repressão não conteve a violência, a violência só aumentou e continua aumentando. E não há valorização dos trabalhadores da segurança pública, nós temos aqui um dos piores salários do Brasil para os policiais, nas delegacias por exemplo o ambiente de trabalho é muito ruim, falta até água para beber. Diante dessa situação, cada crítica que eu fazia, era um processo administrativo, é absurda essa perseguição do governo do PSB aqui em Pernambuco contra o sindicato dos policiais civis. Não fui só eu que recebi processo administrativo, foram 50 processos administrativos em toda a diretoria executiva do Sinpol. Foram seis diretores que levaram mais de 50 processos administrativos, só eu, 18.
BdF: Enquanto ex-presidente do sindicato, a legislação garante a estabilidade do profissional que é presidente de entidade sindical, inclusive um certo período após a gestão. De que forma a decisão do Governo do Estado interfere nisso?
Áureo: Sim, a gente tem imunidade garantida por lei que estabelece inclusive o afastamento das funções policiais para assumir o mandato classista no sindicato. São seis diretores, dos 27 que são eleitos, são lotados no sindicato. Mas eles não respeitam e passaram por cima da legislação. Foi um ato contra a liberdade sindical aqui em Pernambuco em um governo que se diz de esquerda, quando nem os governos da direita fizeram isso
BdF: Para você, qual teria sido a motivação para a sua demissão?
Áureo: A gente recorreu da decisão da demissão por ser autoritária e arbitrária. Entramos com um mandado de segurança e estamos esperando que a justiça de Pernambuco faça justiça nesse caso, que cessem esses ataques à liberdade sindical aqui em Pernambuco, porque hoje sou eu e amanhã será qualquer um que reivindicar para sua categoria. Isso é uma afronta ao Estado democrático de direito.
BdF: Quais medidas estão sendo tomadas quanto a isso?
Áureo: nós estamos fazendo mobilizações políticas para esclarecer a população. No dia 11 tivemos um ato e participaram personalidades importantes aqui de Pernambuco, como o ex-deputado federal e hoje professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Paulo Rubens Santiago; Marília Arraes, do PT, que foi recentemente candidata à prefeita; o professor da UFPE Michel Zaidan; as co-deputadas Juntas; a vereadora mais votada do Recife Dani Portela; as centrais sindicais, vários sindicatos. Todos empenhados justamente para que o governo cesse esses atos contra a liberdade sindical em Pernambuco e vamos ter mais mobilizações. Dia 18, vamos nos concentrar em frente a chefia de polícia, vamos ter representantes de sindicatos de policiais de todo o Brasil e vamos fazer uma Assembleia em frente a sede do Governo de Pernambuco para cobrar o fim da perseguição. A demissão de Áureo Cisneiros significa uma perseguição ao sindicalismo pernambucano.