|
image_processing20210419-10498-1v060f1
image_pdfimage_print

Via El País

Três pesquisas eleitorais divulgadas nesta semana no Peru colocam o professor rural esquerdista Pedro Castillo com uma ampla vantagem sobre Keiko Fujimori, líder do conservador Força Popular. Segundo a sondagem do Instituto de Estudos Peruanos (IEP) apresentada no domingo, Castillo tem 41% das preferências, contra 21% de Fujimori, enquanto os indecisos e as menções a brancos e nulos somam 44% dos pesquisados.

Mas, na região metropolitana de Lima, que concentra 29% do eleitorado, essa diferença caiu. A filha mais velha do ex-autocrata Alberto Fujimori, acusada em março de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e obstrução da justiça, chega a 31%, superando numericamente os 29% do dirigente sindical ―uma diferença que está dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,6 pontos. Em 6 de junho, mais de 25 milhões de peruanos, incluindo 997.000 residentes no exterior, estão autorizados a ir às urnas.

Desde que iniciou sua campanha para o segundo turno, no fim de semana passado, Castillo tem feito vários comícios para multidões no norte do país, apesar de o Peru enfrentar o pior momento da segunda onda da pandemia de covid-19, com mais de 400 mortos por dia na última semana. Em seus discursos, ele reiterou seu compromisso de “morte civil aos corruptos” e de aumentar de 3% para 10% o percentual do PIB destinado a educação e saúde. Frente às críticas de que seu plano de governo, redigido antes da pandemia, não inclui medidas contra a crise sanitária, ele indicou nesta semana que liderará um “Plano Pandemia” e voltou a prometer vacinas seguras.

Em uma entrevista à emissora peruana Radioprogramas, Vargas Llosa criticou duramente o candidato da esquerda: “Se ele estabelecer o modelo venezuelano ou cubano para o Peru, não se pode descartar um golpe militar”, afirmou. O escritor contou que Keiko Fujimori o procurou para manifestar seu compromisso de que não ficará no poder por mais de cinco anos, depois que ele pediu voto para ela em sua coluna no EL PAÍS.

Uma pesquisa da empresa Datum divulgada na semana passada mostrou que, dos 41% inclinados a votar em Castillo, 16% o consideram “a mudança que o país necessita”, ao passo que 29% desse grupo rejeitam Fujimori “por estar sendo investigada pelo Ministério Público”. Para 13%, Castillo “representa os pobres e os mais esquecidos”, e 10% optam por ele para evitar que a vitória da candidata conservadora.

Fujimori recebeu também o respaldo do ex-candidato presidencial ultraconservador Rafael López Aliaga, que anunciou que visitará as localidades onde recebeu mais votos para fustigar o candidato do Peru Livre. “Castillo tem em mim um inimigo de morte. O que este senhor quer é distribuir pobreza: tanto nos custou dar trabalho a tanta gente para que venha um selvagem e nos destrua o país”, atacou.

Conforme a pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos, nos níveis socioeconômicos mais altos Fujimori chega a 38% das intenções de voto. Nos mais baixos, Castillo vai a 49%.

Uma candidata com imagem ruim

O cientista político Paolo Sosa comentou a este jornal que “é muito difícil que, a esta altura, Keiko Fujimori possa modificar substancialmente a percepção negativa que se tem dela e de seu partido. E isto piora com sua estratégia de estimular o temor anticomunista. Pelo contrário, a coloca numa situação beligerante que traz lembranças de seu papel como oposição desde 2016”.

O pesquisador, afiliado ao IEP, refere-se ao comportamento da bancada partidária fujimorista do Força Popular no Congresso, no início do Governo do então presidente Pedro Pablo Kuczynski. Alguns deputados fujimoristas se coordenavam com grupos corruptos da Justiça, os chamados Colarinhos Brancos do Porto, para atrapalhar as investigações por lavagem de ativos contra seus membros.

Sosa acrescenta que a alta rejeição a Fujimori (55%, segundo o Ipsos Peru) “tira a credibilidade de qualquer estratégia que ela usar para demonizar a seu adversário, incluindo o anticomunismo. Mesmo que o medo em relação à esquerda exista em um setor da opinião pública, ele é minimizado diante da péssima reputação que o fujimorismo granjeou, não só pelo regime autoritário dos anos noventa, mas também por seu papel na crise de governabilidade recente. Keiko Fujimori denuncia que o comunismo é caos e autoritarismo, mas essas são duas características também associadas ao seu projeto político”, afirma o cientista político.

Veja também