Via Brasil de Fato
Mapuche e professora da Universidade de Santiago, Loncón disse que presidência da Convenção será rotativa e transparente
A sessão histórica de instalação da Convenção Constitucional do Chile elegeu, por 96 votos, Elisa Loncón, como presidenta do processo que redigirá a nova Constituição no país andino.
Loncón, 58 anos, natural de Traiguen, região no sul do Chile, é Mapuche e professora de Linguística da Universidade de Santiago.
A eleição aconteceu em dois turnos. No primeiro, nenhum dos 155 membros obteve maioria para assumir a presidência: a dianteira foi dominada por Loncón (58 votos) e o direitista Harry Jürgensen (36 votos). Foi somente na segunda votação, que ficou definida a eleição de Loncón.
Após sua redação, o novo texto será submetido a um plebiscito popular em 2022.
Em um histórico discurso, Loncón agradeceu “o apoio às diferentes coalizões que entregaram sua confiança e depositaram seus sonhos no chamado feito pela nação Mapuche, para votar por uma pessoa mapuche, mulher, para mudar a história desse país”.
Segundo Loncón, essa é a oportunidade de construir “um Chile plurinacional, um Chile intercultural, que não atente contra os direitos das mulheres, um Chile que cuide da Mãe Terra”.
Um novo Chile
A professora Mapuche, Elisa Loncón, também revelou que a presidência da Convenção será rotativa e dará espaço a diversos setores dos povos originários, com o objetivo de “refundar o Chile”.
“Temos que ampliar a democracia, a participação. Temos que convocar até o último rincão do Chile, que esse processo seja transparente”, disse.
Em seu discurso, Loncón também lembrou da recente tragédia contra os povos originários do Canadá: mais de 1.100 restos mortais de menores indígenas foram encontrados em um terreno, onde antigamente funcionava um internato para crianças indígenas chamado St. Eugene’s Mission
“Quero também expressar nossa solidariedade a outros povos que sofrem. Vimos pela televisão os relatos do que aconteceu com jovens indígenas no Canadá. É vergonhoso como o colonialismo tem atacado o futuro das nações originárias”.
Repressão
Do lado de fora do Congresso de Santiago, centenas de manifestantes foram agredidos pela polícia chilena. Eles estavam em frente ao prédio, onde aguardavam o início das votações. A maioria dos manifestantes eram mapuches.
As forças militares do governo de Sebastián Piñera usaram bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água para reprimir os manifestantes.
A violência atrasou os trabalhos iniciais da Convenção Constitucional, que chegou a ser suspensa a pedido de partidos de direita.