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vivin
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A crise venezuelana pode terminar com uma guerra civil e internacional se não se detiver o militarismo desenfreado daqueles que querem derrubar o governo de Nicolás Maduro, apelando a um golpe de Estado que complemente a desestabilização promovida desde Washington. Seria um desastre para os venezuelanos e para toda a região.

De uma posição de princípio, a não intervenção nos assuntos internos de outros países é uma questão fundamental. O respeito pela soberania nacional é absolutamente independente da posição de cada um sobre o que está acontecendo no país, o caráter do governo e a qualidade de suas instituições.

Aqueles de nós que sofreram ditaduras no Cone Sul nunca pediram intervenção estrangeira para derrubá-los. Também não apelamos agora à intervenção na Arábia Saudita como um regime deplorável que, além disso, desencadeou uma guerra genocida no Iêmen.

O que está acontecendo na Venezuela envolve a interação entre três atores: o povo venezuelano, o governo, as forças sociais, políticas e militares que o apoiam, e as grandes potências, particularmente os Estados Unidos. Todos os três têm interesses diferentes que, em alguns casos, convergem e, em outros, são antagônicos.

Quem escreve isto apoia o povo venezuelano, rejeita o intervencionismo, mas não apoia o governo de Maduro, que mostra uma deriva autoritária e antipopular. O problema daqueles que mantêm esta posição é que o conceito do povo venezuelano está sendo manipulado a partir de todas as tendas, mas, além disso, não há organizações ou convergências que incorporem uma representação significativa desse povo.

Penso que a situação atual merece uma série de considerações.

A primeira é que vivemos num período de profundo caos geopolítico que durará algumas décadas. Dois grandes grupos de países jogam os seus interesses na Venezuela: os Estados Unidos apoiados pela União Europeia e a China apoiada pela Rússia. Quem tem a iniciativa (o que não significa que ela prevalecerá) são os Estados Unidos, que buscam reverter suas derrotas no Oriente Médio e no Mar do Sul da China, para se fortalecer no Caribe e no resto da América Latina a fim de desacelerar seu declínio hegemônico.

O nosso é o único continente onde Washington obteve vitórias na última década. Tem sido o seu quintal há mais de um século e desde o final do século XIX invadiu países, desestabilizou e derrubou governos independentes, promoveu a ascensão de ditaduras e governos conservadores. Nas últimas décadas, apoiou e armou a contrarrevolução na Nicarágua nos anos 80, a invasão de Granada em 1983, a invasão do Panamá em 1989 e a invasão do Haiti em 1994, derrubando governos legítimos e impondo seus aliados. Em 2002, os Estados Unidos apoiaram o golpe de Estado fracassado na Venezuela.

Nos próximos anos, testemunharemos o aprofundamento deste caos. Os governos de sinais opostos seguirão um após o outro e chegarão ao poder ultra-direitas que pareciam ter sido erradicadas da cena política. O Ministro da Educação de Jair Bolsonaro deixou uma frase que representa esta nova direita: “A universidade não pode ser para todos, deve ser reservada para uma elite intelectual” (goo.gl/Fu2aAp).

A segunda questão é que os povos não têm uma organização para representá-los, nem um caudilho, nem um partido ou movimento. Isso pode ser positivo, pois viemos de um período de unificação de forças que, homogeneizando, perderam sua capacidade de resistir e lutar. Tanto a resistência quanto a criação do novo são múltiplas, heterogêneas em seus tempos e formas de fazer e caminhar.

Mas o fato de que há muita dispersão e que as forças e os povos que resistem não constroem convergências e não estabelecem códigos comuns que lhes permitam dialogar e aprender uns com os outros, é uma desvantagem neste momento em que precisamos nos reconhecer uns aos outros e nos encontrar entre os de baixo.

Entendo que essas confluências estão sendo muito complexas, e encontram dificuldades por causa das diferentes trajetórias e culturas políticas de cada um de nós, por causa dos egos de muitas organizações e de muitas pessoas entre as quais resistimos. Mas, sobretudo, estão jogando contra as iniciativas da banca mundial aplicadas pelos governos, conservadores e progressistas, que se resumem em políticas sociais que aliviam a pobreza embora não a resolvam, mas garantem a governabilidade e a divisão do campo popular.

A terceira questão é a dos governos. Temos um bom punhado de pessoas que praticam discursos anti-sistema. O principal é o do Brasil, mas a maioria adotou esse discurso popular. As diferenças são mínimas: conservadores e progressistas governam para os de cima. Estão aí para afogar as autonomias de baixo, porque, a longo prazo, sabem que são as únicas capazes de transformar o caos sistêmico em novos mundos, onde os povos são os protagonistas e não o capital. Nenhuma transição na história foi feita de cima para baixo.

Original: La Jornada

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