FONTE: El Diario.es | 26/07/2020 | Tradução: Charles Rosa
Primeira parte da série ‘Matria’, um ensaio fotográfico de Judith Prat sobre os direitos dos camponeses em quatro países diferentes
A população camponesa supõe um terço da população mundial, aquela que alimenta. Entretanto, 80% das pessoas que sofrem com a fome e a pobreza no mundo vivem e trabalham em zonas rurais. A situação pela qual atravessa a população camponesa ao longo dos cinco continentes é um dos expoentes mais representativos dos estragos da globalização econômica. A África é um dos cenários onde isso se reproduz mais vividamente.
Em Moçambique, o fenômeno da usurpação e o acúmulo de terras por parte das grandes empresas agro-alimentares e as mineradoras levou muitos camponeses para a fome e a pobreza. O país se encontra entre os 10 menos desenvolvidos do mundo.
Em geral, resulta difícil decifrar as opacas fórmulas de transação sob as quais as companhias transnacionais estão se apropriando dos recursos africanos. A exploração dos recursos mineiros, a água ou a terra para o agronegócio são postos na bandeja pelos governos através de aluguéis, vendas ou concessões de terras.
A maioria das concessões em Moçambique se fizeram sobre terras já cultivadas por agricultores locais, os quais são removidos com enganos e pressões a zonas piores. As elites políticas entregam de bandeja seus recursos e a soberania alimentar aos interesses estrangeiros, em vez de assegurar a sobrevivência da agricultura familiar e encurralar a especulação com aquilo que lhes dá de comer.
Enquanto isso, numerosos hospitais destas e outras zonas rurais atendem a desnutrição que muitas meninas e meninos padecem desde seu nascimento. Às vezes, como herança de suas próprias mães que, paradoxalmente, produziam o necessário para alimentar o restante do mundo.
Monocultivo de eucalipto do grupo português Portucel (o maior produtor europeu e o quinto a nível mundial de pasta branqueada de eucalipto BEKP) em Gurue | Judith Prat
Anastasia, camponesa de Ruace, coletando feijões na parcela que empresa Hoyo Hoyo lhe deu após se apropriar das terras férteis da comunidade para plantar 3000 hectares de soja. Os campos que lhes deram são de terra rochosa e estéreis. | Judith Prat
A empresa Hoyo Hoyo prometeu investimentos no povo de Ruace em troca de ficar com as melhores terras da comunidade. Mas 8 anos depois não canalizou a água até o povo e as mulheres seguem caminhando 1 hora montanha acima para lavar a roupa ou buscar água potável. | Judith Prat
Crianças da escola de Hori fazendo exercício na rua. Esta comunidade está afetada pela ampliação da empresa mineradora irlandesa Kenmare Resources. | Judith Prat
Criança durante uma aula na escola de Hori. O edifício está em ruínas e eles não têm cadeiras ou mesas. | Judith Prat
Mulheres de Tophuito caminham por um dos acessos à mina de areias minerais que explora a companhia irlandesa Kenmare Resources. A instalação da mina resultou no deslocamento de 146 famílias camponesas que perderam suas terras. | Judith Prat
Pescadores em sua chegada à baía de Moma. A pesca se viu muito afetada pela contaminação das companhias mineradoras em algumas zonas. | Judith Prat
Mina de carvão de companhia indiana Jindale Steel and Power Limited na comunidade de Casoca. O povo ficou preso dentro da concessão mineira. Muitos de seus habitantes foram reassentados a vários quilômetros, mas os que optaram por ficar sofrem a contaminação que provoca a extração do carvão na mina e ficaram sem terras de cultivo e pastos | Judith Prat
Alina de 10 anos brinca junto a um trem carregado de carvão no porto seco de Jindale Steel and Power Limited em Moatize. | Judith Prat
Winissai w Zeferino foram reassentados em Katembe junto a outras 716 famílias pela companhia mineradora brasileira Vale Moçambique que ficou com suas terras. Em troca lhes ofereceram uma casa e uma parcela na qual cresce nada a 40 quilômetros de sua comunidade. | Judith Prat