Todos os povos da América Latina vivem sob a terrível pandemia que assola e mata, especialmente os mais pobres. Em meio a esta situação, e rejeitando uma reforma fiscal que taxa o consumo da classe média e dos mais pobres para atender às exigências do FMI, o povo colombiano (trabalhadores, indígenas, camponeses, jovens), se insurgiu em uma Greve Geral que começou em 28 de abril e que levou a manifestações maciças em 1º de maio.
No dia dos trabalhadores na cidade de Cali (como em muitas outras cidades, Bogotá, Medellín, Bucaramanga) a manifestação reuniu dezenas de milhares que transbordaram pela avenida principal. No final da tarde, a cidade foi militarizada, e um comandante do exército assumiu a repressão com 700 soldados e policiais que atiraram e mataram 27 pessoas. A força do povo, da juventude e dos trabalhadores insurgentes levou agora o governo a retirar a reforma tributária. Certamente tentará fazer com que os pobres paguem pela crise de outras maneiras.
Na Colômbia temos um governo que é primo de Bolsonaro. Duque, sob a tutela do ex-presidente assassino Uribe, é um governo que até agora matou dezenas de líderes sociais, trabalhadores e indígenas em sua administração. Criminaliza o protesto social, mata e expropria terras indígenas e agora recorre ao terrorismo de estado de forma ostensiva.
A Greve Geral é um movimento que nasceu da base, dos bairros e das categorias, e ao qual as lideranças sindicais tiveram que responder. Devido a esta falta de organização e liderança do movimento real, existe o perigo de que na mesa de negociações no parlamento aconteça a mesma coisa que aconteceu no Chile. Lembremos que, naquele país, em meio a mobilizações maciças, foi votada uma Assembleia Constituinte. Esta grande conquista é condicionada pelo fato de que 40% de seus membros (um número alcançável pela ala direita) têm o poder de veto.
Agora, além de qualquer alerta, o que é importante para nós brasileiros e todos os latino-americanos é a solidariedade com o povo colombiano e uma campanha para que a repressão seja investigada e para que os responsáveis sejam marcados com o fogo. A América Latina está vivendo em tempos de mudança. Em muitos países o povo se mobilizou, se levantou e protestou contra a crise que está sofrendo. Equador, Chile, Bolívia, Peru, Paraguai, marcam este caminho. Não é um caminho fácil. A resposta em praticamente todos os casos tem sido a repressão. Se somarmos o número de mortes em todos os protestos nos encontraremos com mais de uma centena. Mas a repressão não intimida nem põe um fim à mobilização. Ontem foi na Bolívia e no Chile e hoje é na Colômbia onde o povo a desafia.
Nós brasileiros estamos sob um governo neo-fascista que está nos matando com sua negação diante da pandemia. Ele ameaça sistematicamente usar o exército, e não podemos descartar que ele possa querer usá-lo em algum momento. No Brasil é uma questão de pôr um fim a este governo, um primo de primeiro grau do governo colombiano. E a Colômbia nos dá um exemplo do que um povo pode fazer em face de medidas de austeridade e da repressão.