Fonte: The Santiago Times – 02/05/2018 – Tradução: Charles Rosa
O novo presidente eleito do Paraguai, Mario Benítez, será empossado em 15 de agosto. Por que o Paraguai voltou a votar no Partido Colorado e o que isso significa para o futuro próximo do país sul-americano?
Por mais de 130 anos, o Partido Colorado se estabeleceu firmemente dentro da política paraguaia, 72 dos quais governaram. Por vezes foi o único partido político legal. Foi o partido do governante militar Alfredo Stroessner durante seus 35 anos no poder, e desde então só houve dois presidentes de diferentes partidos desde que Stroessner foi deposto em 1989: o democrata-cristão Fernando Lugo (2008-2012) e Federico Franco (2012-2013) do PLRA.
Mario Benítez é filho do secretário particular de Stroessner.
Uma razão para a adesão ao partido é que o Paraguai tradicionalmente carece da diversidade política de seus vizinhos. Desde 1989, cinco partidos ou alianças diferentes ocuparam cargos na Argentina, Brasil e Bolívia. O Paraguai, pelo contrário, tem sido governado por um partido de extrema-direita durante 24 dos últimos 29 anos.
Outra razão é a sua relação com o Brasil. As relações entre os dois vizinhos têm sido controversas há muito tempo, principalmente por causa da alta população de agricultores brasileiros em terras paraguaias e da obrigação do Paraguai de fornecer energia hidrelétrica para seu vizinho muito maior.
A terceira razão pode ser atribuída às estruturas e questões sociais. A discriminação contra migrantes, mulheres e comunidades LGBT no Paraguai é oficialmente ilegal, embora generalizada. O presidente Horacio Cartes declarou publicamente que “daria um tiro nas bolas” se descobrisse que tinha um filho homossexual. O Partido Colorado tem feito pouco para implementar as proteções legais de crianças, migrantes e outros grupos que enfrentam discriminação, o que é atraente para uma base de eleitores conservadores, em grande parte católicos romanos.
Estes são os mesmos eleitores que testemunharam a suspensão do Paraguai do bloco comercial do Mercosul em 2012, e que se sentem tutelados por um Brasil mais influente. Uma votação em Benítez, que propõe patrulhas de fronteira mais rígidas, significa, em certa medida, oposição à migração brasileira e venezuelana.
Um Paraguai de direita dificilmente se identificaria com um Brasil governado por Jair Bolsonaro, o polêmico populista que lidera as pesquisas no país. Com as relações entre Paraguai e Brasil tão frágeis como nuca, e apenas remendadas pelo ex-presidente Lula, recentemente preso, o Paraguai, seguindo o mesmo caminho que sempre seguiu, pode prejudicar indiretamente o comércio sul-americano.
Muitos dos abusos aos direitos humanos cometidos sob o regime de Stroessner não são incomuns entre a polícia paraguaia, variando de sequestro a extorsão. Os grupos que mais comumente extorquem seus subordinados e civis, ou seja, as forças policiais e militares, não são capazes de morder a mão que os alimenta.
Foi nestas circunstâncias que se esperava que o Paraguai votasse a favor e que, dentro de dois meses, empossará o novo presidente Mario Benítez. Benítez, ao expressar desaprovação pelos abusos aos direitos humanos cometidos durante os anos de Stroessner, também afirmou que o ex-ditador “fez muito pelo país”.
É altamente improvável que a corrupção paraguaia sofra com um governo de Benítez. Enquanto o Brasil enfrenta um futuro incerto, a Argentina gravita em direção a políticas mais progressistas e centristas, e a Bolívia continua em seu próprio caminho único, embora acidentado, de progressismo indígena e ambiental, o Paraguai enfrenta mais cinco anos de status quo. Isso parece muito bem para o público em geral.