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Nesta edição do Clipping Semanal do Observatório Internacional, destacamos as manifestações multitudinárias que abalam o regime de Abdelaziz Bouteflika, presidente que desistiu de concorrer ao quinto mandato consecutivo. Outro assunto que ocupou as manchetes internacionais foram as reações do governo da Nova Zelândia no sentido de endurecer as regras para a porte de arma, após o massacre numa mesquita perpetrado por um supremacista branco na última sexta-feira.

Este Clipping conta ainda com notícias sobre: a decisão do Parlamento britânico de adiar a data do Brexit, manifestações dos coletes amarelos na França e da oposição na Sérvia, a marcha independentista catalã na capital espanhola, o veto do Senado americano (controlado pelos Republicanos) à proposta de emergência nacional de Donald Trump, os novos ataques aéreos de Israel em Gaza, a crise política venezuelana, as tensões entre o governo uruguaio e a ala dura do Exército, a nova política da UE ante a expansão dos investimentos chineses no Velho Continente e o 15-M marcado pelas manifestações globais contra a mudança climática.

Na segunda parte do Clipping, reunimos alguns artigos de intelectuais e ativistas da esquerda mundial a respeito de temas como a prisão de imigrantes indocumentados nos EUA, o plano do New Deal Verde apresentado pelos progressistas dos EUA, o Equador sob o governo de Lenin Moreno, o recuo de Bouteflika na Argélia pressionado pela revolta popular e democrática no país africano e a responsabilidade da Boeing e das grandes empresas em tragédias como a que ocorreu no final de semana passado na Etiópia.

Desejamos a todos uma excelente e útil leitura!

Charles Rosa – Observatório Internacional


NOTÍCIAS E ARTIGOS NA IMPRENSA INTERNACIONAL

Protestos na Argélia

The Guardian (15/03): “Protestos na Argélia crescem à medida que a elite se distancia de um presidente doente” (em inglês)

Centenas de milhares de manifestantes protestaram em toda a Argélia numa quarta sexta-feira consecutiva, quando a elite política do país começou a se distanciar do doente presidente Abdelaziz Bouteflika, de 82 anos. Apesar da forte presença policial, enormes multidões marcharam pela capital, Argel, a capital, pedindo a Bouteflika que se demitisse após duas décadas no poder.

Controle de armas na Nova Zelândia após massacre em mesquita

CNN (15/03): “Primeira-ministra da Nova Zelândia afirma ‘Nossas leis de armas vão mudar” (em inglês)

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse na manhã de sábado que “as leis de armas no país vão mudar” após o tiroteio em massa em duas mesquitas de Christchurch que deixaram 49 pessoas mortas. “Havia cinco armas usadas pelo autor principal”, disse ela em uma coletiva de imprensa em Wellington. “Havia duas armas semi-automáticas e duas espingardas. O infrator estava na posse de uma licença de arma. Fui informado de que ele as adquiriu em novembro de 2017. Uma arma de fogo de alavanca também foi encontrada. Ela disse que o suspeito, identificado como Brenton Tarrant, obteve uma licença de porte de arma em novembro de 2017 e começou a comprar armas legalmente em dezembro de 2017.

Brexit

CNN (14/03): “Deputados britânicos aprovam adiamento do Brexit, mas rejeitam segundo referendo” (em inglês)

Os legisladores britânicos votaram a favor do adiamento do processo Brexit, reconhecendo que é necessário mais tempo para quebrar o impasse sobre a saída da Grã-Bretanha da UE. Mas eles rejeitaram decisivamente a convocação de um segundo referendo. A primeira-ministra Theresa May vai agora pedir aos líderes europeus que concedam uma extensão ao Artigo 50, o processo legal sob o qual a Grã-Bretanha está deixando a União Européia. A menos que um atraso seja aprovado pelos restantes 27 líderes da UE, a Grã-Bretanha está a caminho de uma saída caótica a 29 de Março.

Coletes Amarelos

El País (16/03): “Os ‘coletes amarelos’ voltam a protestar em Paris numa manifestação com confrontos violentos” (em espanhol)

Cerca de 10 000 coletes amarelos, mais que nas semanas recentes, tomaram de novo a praça de l’Etoile, onde se localiza o Arco do Triunfo, e os Campos Elíseos, a grande avenida comercial e turística, e causaram vários incêndios. Um incêndio no solo de um banco deixou bloqueados uma mulher e seu bebê no segundo andar do edifício, informa a agência France Presse. Ambos foram resgatados.

Independentismo na Catalunha

Publico.es (16/03): “Milhares de pessoas pedem em Madri o ‘direito da autodeterminação’ convocadas pelo independentismo (em espanhol)

Sob o lema “A autodeterminação não é delito. Democracia é decidir”, milhares de pessoas desfilaram neste sábado pela tarde pelo Passeio do Prado de Madri para defender a autodeterminação, chamadas por Omnium Cultural e Assembleia Nacional Catalã entre outras entidades. Para os convocantes foram 120 000 os assistentes, 18 000 para a Delegação do Governo em Madri.

Protestos na Sérvia

The Guardian (17/03): “Manifestantes invadem TV estatal sérvia em meio de manifestações nos Balcãs” (em inglês)

Os manifestantes invadiram o edifício da televisão estatal da Sérvia pela primeira vez em quase 20 anos e a polícia albanesa utilizou gás lacrimogêneo para dispersar uma multidão que tentava invadir o parlamento num dia de manifestações anti-governamentais nos Balcãs. Em Belgrado, manifestantes invadiram o prédio estatal da Rádio Televisão da Sérvia (RTS) no sábado, exigindo dirigir-se à população em imagens transmitidas ao vivo. Houve protestos semanais da oposição desde dezembro contra o presidente sérvio, Aleksandar Vučić, reivindicando a liberdade de imprensa como condição para eleições livres e justas. As notícias da televisão estatal têm dado pouca cobertura aos protestos.

Ataques na Palestina

Al Jazeera (15/03): “Israel lança ataques aéreos em Gaza depois que foguetes atingiram Tel Avivi” (em inglês)

Israel lançou ataques aéreos em Gaza horas depois que foguetes foram alegadamente disparados perto de Tel Aviv, aumentando os temores de uma grande escalada no conflito israel-palestino. Explosões foram ouvidas na Faixa de Gaza no início da sexta-feira e testemunhas palestinas disseram que aviões de guerra israelenses bombardearam as posições de segurança do Hamas. Quatro palestinos foram feridos nas batidas, disse o ministério da saúde do enclave.

Crise na Venezuela

NY Times (11/03): “Filmagem contraria a afirmação dos EUA de que Nicolás Maduro queimou o comboio da ajuda humanitária” (em inglês)

A narrativa parecia se encaixar no regime autoritário da Venezuela: As forças de segurança, por ordem do presidente Nicolás Maduro, incendiaram um comboio de ajuda humanitária enquanto milhões de pessoas no seu país sofriam de doenças e fome. O vice-presidente Mike Pence escreveu que “o tirano de Caracas dançou” enquanto seus capangas “queimavam comida e medicamentos”. O Departamento de Estado divulgou um vídeo dizendo que o Sr. Maduro ordenou que os caminhões fossem queimados. E a oposição da Venezuela levantou as imagens da ajuda queimada, reproduzidas em dezenas de sites de notícias e telas de televisão em toda a América Latina, como prova da crueldade do Sr. Maduro.

Tensões entre governo e militares no Uruguai

El País (16/03): “Direitos humanos e reforma do Exército causam tensão na relação com militares no Uruguai” (em português)

Pouco depois do afastamento do número um do Exército uruguaio por criticar a Justiça, a imprensa local revelou que Vázquez tinha enviado uma carta pedindo perdão às famílias de dois desaparecidos argentinos que foram levados do Uruguai para o Paraguai, onde foram finalmente encontrados seus restos mortais. O pedido oficial de perdão às famílias do casal formado por Rafaella Filipazzi e Agustín Potenza (militantes socialistas) foi fruto de uma iniciativa do presidente que, por meio de um grupo de trabalho, busca esclarecer crimes, recuperar arquivos e digitalizá-los.

Derrota de Trump no Congresso

Chicago Tribune (14/03): “Senado controlado pelos Republicanos rejeita Declaração de Emergência, estabelecendo seu primeiro veto” (em inglês)

Em uma repreensão impressionante, uma dúzia de republicanos desertores se juntaram ao senadores Democratas na quinta-feira para bloquear a emergência nacional que o presidente Donald Trump declarou para que ele pudesse construir seu muro de fronteira com o México. A rejeição encobriu uma semana de confrontação com a Casa Branca enquanto ambos os partidos no Congresso se esforçavam para exercer seu poder de novas maneiras.

Protestos globais contra a mudança climática

BBC (15/03): “Greves climáticas se espalham por todo o mundo enquanto os estudantes pedem ação” (em inglês)

Milhares de alunos de todo o mundo abandonaram as salas de aula por um dia de protesto contra as alterações climáticas. Índia, Coreia do Sul, Austrália e Estados Unidos estão entre os países onde os adolescentes já estão em greve. Espera-se que o dia de acção abranja cerca de 100 países. Eles são inspirados pela adolescente sueca Greta Thunberg, que protesta semanalmente diante do parlamento sueco. Os cientistas dizem que são necessárias medidas mais duras para reduzir o aquecimento global. O acordo climático de Paris de 2017 comprometeu quase 200 países a manter as temperaturas globais “bem abaixo de” 2.0C (3.6F) acima dos tempos pré-industriais e a lutar por um máximo de 1.5C.

Expansão da economia chinesa

El País (17/03): “O novo medo da Europa se chama China” (em espanhol)

A antiga fábrica com mão de obra barata se transformou num empório que obriga a UE a reagir. Na última quarta-feira. a Comissão Europeia deu um giro radical em sua política para a China, a qual é qualificada agora como “rival sistêmico” num domcumento oficia. que reorienta a estratégia de Bruxelas para Pequim. (…) O endurecimento diplomático em relação a Pequim coincide com o início do funcionamento em abril do primeiro mecanismo comunitário de investimentos estrangeiros, um controle que chega depois de que o investimento chinês na Europa tenha ultrapassado os 800 milhões de dólares em 2008 até um patamar de 42 bilhões durante 2016.


ARTIGOS E DEBATES DA ESQUERDA INTERNACIONAL

Prisão de imigrantes nos EUA

Democracy Now (17/03): “Nos EUA é muito lucrativo encarcerar pessoas indocumentadas que não possuem voz e contam com pouca representação“, Entrevista com a Valeria Luiselli (em espanhol)

O que vemos hoje em dia no Governo de Trump, a separação de famílias, os espaços chamados coloquialmente “geleiras”, que é onde primeiro colocam as pessoas que chegam à fronteiras, e os espaços chamados “canis”; nada disso é novo. A separaçaõ familiar inclusive não é nova. O Governo de Trump tem levado práticas que ocorriam no Governo Obama a um extremo inimaginável, mas o Governo de Obama não foi positivo nessa pauta.

Debate econômico nos EUA

Rebelion.org (16/03): “Transformar a economia dos EUA: o Green New Deal“, por Alejandro Nadal (em espanhol)

Desde logo, a principal objeção da direita a este pacote de políticas foi sua pretendida falta de realismo. A pergunta que se utiliza para atacar a proposta se disfarça de rigor econômico: de onde vai sair todo o dinheiro para financiar o programa? É uma interrogação mal intencionada. Atrás dela se esconde a hipocrisia de quem nunca questionou o custo astronômico dos resgates para o sistema financeiro. A mesma pergunta que encobre a duplicidade dos que há um ano aprovaram a reforma fiscal de Trump, que conduziu a um explosivo aumento do déficit fiscal.

Responsabilidade da Boeing no acidente na Etiópia

Jacobin Magazine (16/03): “As vidas que o Livre Mercado tomou“, por Branko Marcetic (em inglês)

Seja o que for que a caixa negra do voo da Ethiopian Airlines revele, as vidas postas em risco por regulamentos flexíveis não são tragédias apolíticas; são causadas por uma administração que se tem mostrado repetidamente insensível e indiferente às vidas das pessoas por quem afirma lutar, quer os porto-riquenhos tenham deixado de se defender sozinhos na sequência de uma catástrofe natural, quer os trabalhadores federais tenham sido utilizados como moeda de troca num jogo de brincadeira política.

Equador

Jacobin Magazine (16/03): “A traição de Lenin Moreno“, por Timm Benjamin Schutzhofer (em inglês)

Enquanto Moreno prossegue sua agenda conservadora, um número crescente de setores sociais começou a se distanciar do governo. As políticas neoliberais do governo ainda não levaram ao sucesso econômico prometido, e as tentativas reflexivas de culpar Correa pelos problemas estão perdendo eficácia. A deterioração das condições sociais que já vimos é uma advertência de que o Equador corre o risco de voltar a cair no mesmo tipo de instabilidade e crise política que caracterizou a era anterior à Revolução Cidadã.

Argélia

Jacobin Magazine (16/03): “Um regime dividido“, por Hocine Bellaoufi (em inglês)

A crise política que hoje abala a Argélia não caiu do céu. Depois de uma longa crise no regime no poder, tudo indica agora que a atual ordem política está chegando ao fim. Com efeito, as promessas de reforma constitucional do presidente Abdelaziz Bouteflika indicam que as próprias autoridades estão conscientes de que o seu regime já não corresponde aos interesses das forças dominantes na sociedade argelina. No entanto, estão também a preparar uma última tentativa para manter o controlo do processo de reforma, agora inevitável.

Portal da Esquerda em Movimento (12/03): “Sim, é uma primeira vitória“, por Partido Socialista dos Trabalhadores da Argélia (em português)

Para o PST, nem Bouteflika e seu odiado regime, nem aqueles que se dizem “oponentes”, mas que já estão esfregando as mãos para compartilhar o poder com seu regime autoritário e neoliberal, podem decidir no lugar do povo argelino. Para o PST, nenhuma personalidade providencial, nenhum “Comité de Sábios” e outro “governo neutro, interino, tecnocrata”, etc., podem ser uma solução. Eles não terão legitimidade, uma vez que serão designados pelo regime, e não eleitos pelo povo com base em um confronto democrático e leal entre os projetos e os programas políticos das diferentes correntes.

Crise ambiental

Viento Sur (15/03): “O capitalismo jamais será verde“, entrevista com Daniel Tanuro (em espanhol)

A lógica produtivista do sistema leva a tendência, como dizia Marx, “a esgotar as duas únicas forças de qualquer riqueza – a Terra e o trabalhador”. Enquanto haja recursos para roubar e força de trabalho para explorar, o capital, como um gigante autômata, seguirá com sua atividade destrutiva. Esta só pode ser detida se a humanidade recuperar o controle da produção de sua existência social. Para isso, o autômata deve ser desmantelado. Como já disse, não é uma condição suficiente, mas é uma condição necessária.

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