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SUDAO
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Sudão tem experimentado, mais uma vez, um processo de ebulição social. Desde dezembro de 2018, milhares de pessoas estão ocupando as ruas contra Omar al-Bashir, que governou o país por 30 anos, sob a forma de um regime altamente autoritário e opressor, em especial com as mulheres. A Corte de Haia acusou e emitiu mandado de prisão a al-Bashir por graves crimes de guerra, incluindo sua articulação de estupros em massa em Darfur.

A separação do Sudão do Sul, em 2011, aprofundou a crise econômica do país, já que ali se concentra toda a indústria petroleira. Como resposta à crise, al-Bashir assumiu a política de profunda retirada de direitos, seguindo a agenda neoliberal do FMI, que causou colapso na já em crise economia sudanesa, gerando aumento da inflação, aumento de preços de produtos e serviços básicos e instabilidade financeira. al-Bashir teve que ser deposto, depois de intensa mobilização social. O Exército busca conter o processo revolucionário, que colocou as mulheres, os trabalhadores e a juventude nas ruas para derrubar a ditadura que levava três décadas. Os ares da primavera sudanesa começam a se fazer presentes.

O que se iniciou como protestos contra o aumento dos preços em Atbara, se transformou em uma verdadeira revolta popular contra o regime. Nas ruas o chamado é para uma revolução política profunda. Os protestos têm sido liderados por alguns dos setores mais precarizados e atingidos pelo regime de al-Bashir e pela crise. Médicos, professores, jornalistas, profissionais liberais se organizam em uma importante frente trabalhista, que está à frente das mobilizações e chamados para os protestos, a Associação Sudanesa de Profissionais (Sudanese Professionals Association). Os estudantes têm resistido bravamente e, como resposta, al-Bashir fechou todas as universidades públicas desde a irrupção dos protestos, o que gerou ainda mais mobilização e centralidade para o movimento estudantil na luta contra o regime.

O setor mais dinâmico, entretanto, é sem dúvidas o movimento de mulheres. O regime de al-Bashir tem oprimido mulheres como política de Estado. Desde 1991, diversas leis foram instituídas para controlar socialmente as mulheres, submetendo-as às vontades dos homens, regulando o modo de vestir, o trabalho e até a liberdade de ir e vir como quiserem. A combinação da enorme opressão machista à grave crise econômica e social transformou o movimento de mulheres na principal ameaça ao regime. Os movimentos de mulheres têm sido duramente reprimidos. No início do ano, nove mulheres foram condenadas a ‘20 chibatadas’ por participarem de protestos. Outras dezenas estão presas, muitas submetidas a violência sexual como ferramenta de repressão. Ainda assim, as mulheres não tiram os pés das ruas.

A repressão de al-Bashir tem sido brutal e já encarcerou e assassinou diversos ativistas. Os protestos foram marcados por uso excessivo das forças do governo e de ‘milícias’ de al-Bashir, que atacaram os manifestantes com gás de pimenta, tiros de armas de fogo e cassetetes. A violência do Estado nos protestos forçou o Exército a intervir contra as forças de al-Bashir em defesa dos manifestantes. A pressão sobre o posicionamento do Exército aumentou, o que levou à detenção de al-Bashir e à destituição do cargo pelos militares em 11 de abril. Os militares, que assumiram o governo, anunciaram um governo de transição e a abertura de diálogo com as entidades políticas para decidirem os próximos rumos do Sudão e, então, instituir um governo civil.

Nos solidarizamos com este intenso processo pelo qual passa a população sudanesa. É fundamental que, junto aos movimentos sociais, aos trabalhadores e às mulheres, seja feita uma retomada democrática no país, que garanta direitos e o fim da repressão de Estado contra as mulheres, da implementação da agenda neoliberal do FMI e a perseguição política contra os ativistas defensores de direitos humanos e estudantes, dando condições a uma verdadeira revolução política e econômica que emancipe o povo sudanês e garanta liberdade de direitos.

Vamos cercar de solidariedade à luta do povo sudanês, que junto aos argelinos, fazem do continente africano um ponto de revolta e esperança para enfrentar os regimes autoritários em todo planeta.

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