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FONTE: The Guardian | 17/07/2020 | TRADUÇÃO: Charles Rosa

Segundo uma nova análise, o impacto econômico do coronavírus é um “barril de pólvora” que gerará distúrbios civis e instabilidade nos países em desenvolvimento na segunda metade de 2020.

Os países de maior risco são os que enfrentam uma “tormenta perfeita”, onde os protestos impulsionados pelas consequências econômicas da pandemia provavelmente inflamem as queixas existentes, como Nigéria, Irã, Bangladesh, Argélia e Etiópia, segundo a análise.

Trinta e sete países, principalmente na África e na América Latina, poderiam enfrentar protestos de rua sem paralelo por um período de até três anos, advertiu a consultoria de risco global Verisk Maplecroft.

Mas advertiu que o risco de distúrbios em outros países, como Índia, Brasil, Rússia, África do Sul, Indonésia e Turquia, é apenas um pouco menos agudo e ainda constitui uma ameaça para a estabilidade. Estados Unidos, que viu protestos generalizados de Black Lives Matter depois do assassinato de George Floyd por um oficial da polícia em maio, também poderia ver mais levantes, disseram analistas. A combinação destes protestos, junto com a crescente frustração pela perda de empregos e a frágil resposta pândemica do presidente Trump significaram que os novos distúrbios eram “inevitáveis”.

Os distúrbios civis caíram em março deste ano, depois dos bloqueios impostos pelos governos em resposta à crise de saúde, segundo dados proporcionados por Armed Conflict Location and Event Data (ACLED), uma ONG que rastreia as mortes e outros dados.

Miha Hribernik, analista principal de Verisk Maplecroft, disse que o número total de protestos nos países em desenvolvimento quase se recuperou a níveis anteriores à pandemia, já que reapareceram as queixas de longa data pelas desigualdades socioeconômicas, os direitos civis e políticos, além da corrupção governamental.

“Dado que muitos países ainda estão em quarentena e ainda não se sente o o impacto econômico total da pandemia, esperamos que aumente o número de protestos nos próximos 2 ou 3 meses” disse Hribernik. Utilizou cinco fatores para determinar a capacidade de 142 países para se recuperar da pandemia, assim como dados de protestos passado, para determinar as projeções de distúrbios civis.

“É um barril de pólvora”, disse. “Não se necessita tanto como há um ano”.

“Podemos ver que quando começou a quarentena, a grande maioria dos protestos estavam relacionados com a Covid. Tivemos protestos por alimentos em Manila e protestos em Bangladesh em indústrias de confecção.”

Ao menos 166 pessoas morreram durante manifestações violentas na Etiópia nas últimas semanas, depois do assassinato de um cantor popular, Haacaaluu Hundeessaa, membro do grupo étnico oromo, e uma voz destacada nos protestos contra o governo. Também se observaram levantes populares em Manila, Filipinas pela escassez de alimentos e em Bangladesh entre os trabalhadores da confecção que enfrentam o não pagamento de salários depois do cancelamento de bilhões de dólares em pedidos de roupa.

Em 2019, Verisk Maplecroft registrou 47 países com um aumento significativo nos protestos, inclusive Hong Kong, Chile, Nigéria, Sudão e Haiti. Previu mais agitação em 2020.

“Foi um fenômeno global no ano passado”, disse Hribernik. “Cada protesto foi único, primordialmente impulsionado pela ira pela desigualdade, a corrupção, a erosão da confiança nas elites políticas. Estes não são problemas que possam ser resolvidos da noite para o dia. São questões estruturais que levam anos ou décadas para serem resolvidas”.

Os países de todas as regiões, exceto Europa, agora caem na categoria de maior risco, de acordo com as projeções de distúrbios civis de seis meses da companhia e seu índice de capacidade de recuperação (RCI). O RCI utiliza a força das instituições estatais, a conectividade física e digital, o dinamismo econômico, a sensibilidade da população e outros fatores, como os desastres naturais ou o terrorismo, para determinar os impactos na recuperação da pandemia.

“Nosso cenário base – que 2020 verá um aumento nos protestos e que a próxima década será uma de distúrbios sem precedentes – segue de pé”, disse Hribernik. “Mas nos países menos preparados para recuperar-se da pandemia, agora parece o melhor dos casos”.

Na África sub-saariana, Verisk Maplecroft espera que o risco de protestos se intensifique em meio ao declive econômico, a pobreza e a incapacidade para garantir o fornecimento adequado de alimentos. Na América Latina, a Venezuela está classifica como de maior risco de distúrbio.

Karen McVeigh é jornalista do The Guardian.

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