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FONTE: Anticapitalistas | 04/08/2020 | TRADUÇÃO: Charles Rosa

O rei emérito Juan Carlos I fugiu como os outros Bourbons já haviam feito antes. Cada vez há menos dúvidas sobre sua responsabilidade numa trama corrupta na qual o monarca aproveitou sua posição de poder, outorgada por uma instituição ilegítima e herdeira do franquismo, para enriquecer-se pessoalmente.

Em primeiro lugar, qualquer Estado de direito que contasse com uma justiça minimamente independente procederia de imediato a retirada do passaporte de Juan Carlos I. Foge em meio a um processo judicial aberto depois de tornar-se público anos e anos de encontro com empresários, monarcas e ditadores que permitiram ao Bourbon acumular uma suculenta riqueza. Mesmo que fosse pouco, ainda há pessoas criminalizadas e perseguidas por dizer que “Bourbon es un ladrón”. Um capítulo a mais que demonstra o papel de um sistema judicial benevolente com os de cima e sumamente agressivo com os de baixo. Escândalos que há tempos refletem a razão de ser uma instituição a serviço dos juros de alguns poucos que há séculos parasitam o esforço dos que dia a dia geram a riqueza na sociedade. Não se trata, por tanto, de julgar tão somente uma pessoa: trata-se de julgar toda uma instituição a qual é a que possibilitou, com sua natureza desigual e privilegiada, esta corrupção insultante.

Em segundo lugar, a fuga do rei Juan Carlos I faz parte de uma operação política orquestrada pelo PSOE para regenerar a imagem da Monarquia desvinculando o atual rei Felipe dos desmandos de seu pai. Não nos surpreende que o atual monarca se aferre ao cargo e tente salvar seus privilégios. Não nos surpreende a defesa que faz a direita da monarquia. Tampouco a submissão do PSOE ante ela. A esta altura, tampouco deveria nos surpreender que no Estado espanhol não existam “monárquicos” críticos com o vergonhoso comportamento do rei. Ao fim e ao cabo, a monarquia somente foi um instrumento mais das elites para sua operação transformista em 78: se tratava de implantar uma democracia limitada no Estado espanhol, onde o poder econômico e as estruturas do Estado ficassem intactas depois do franquismo.

O que nos parece intolerável a estas alturas é que nem depois de um escândalo desta magnitude, os poderes políticos proponham sequer um referendo no qual cidadania possa decidir. Décadas de propaganda não podem ocultar a questão: ninguém votou esta instituição. Cada vez menos gente a considera útil. Ninguém acredita já que se possa desvincular a pessoa da instituição. Há um clamor, surdo, mas cada vez mais difícil de ocultar: o povo quer decidir sobre a monarquia.

A primeira responsabilidade quem tem é o governo. Existe uma maioria parlamentar que se declara formalmente republicana. Existe a possibilidade desde o governo de abrir um debate público que culmine numa votação que dê a palavra aos povos do Estado espanhol. Caso isso não seja feito, é por falta de vontade política. A esta altura, já comprovamos que ao governo lhe sobra retórica “progressista” mas carece de vontade. Nesse sentido, fazemos um chamado a todas as forças políticas e sociais republicanas para ativar mecanismo democrático que permitam à cidadania conhece o alcance dos malfeitos monárquicos e facilitar que o povo expresse sua opinião sobre esta instituição. Se o parlamento segue negando uma comissão para investigar o rei, propomos que se constitua uma comissão independente formada por gente destacada da sociedade civil para recompilar a informação sobre os negócios corruptos da monarquia. Se o poder político segue negando a possibilidade de que o povo expresse sua opinião, acreditamos necessário que, seguindo a senda marcada pelos referendos populares sobre a monarquia, que as forças políticas e sociais republicanas tomem a iniciativa e organizem um grande referendo no qual a gente possa expressar sua opinião. Não podemos afrontar a crise que vem resignadxs e permitindo que os de sempre se safem de novo. Desta vez, tem que ser distinto. Desde Anticapitalistas trabalharemos com todo o mundo disposto a isso nessa direção.

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