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FONTE: El Pulso | 07/08/2020 |TRADUÇÃO: Charles Rosa

As vidas garífunas importam

Numa alusão à campanha realizada nos Estados Unidos #BlackLivesMatters “As vidas negras importam”, como protesta pelo assassinato de George Floyd, ocorrido em 25 de maio de 2020 por causa de uma brutal agressão sofrida por um agente policial de Minneapolis que se ajoelhou sobre seu pescoço durante uma prisão até retirar sua vida, gerando uma imensa mobilização popular de repúdio contra o racismo estrutural na potência do norte; organizações garífunas e também organizações sociais, dirigentes e cidadãos/ãs conscientes de Honduras, começamos uma campanha por vários meios de comunicação e redes sociais com a etiqueta #LaVidasGarífunasImportan.

A exigência é aparição com vida dos quatro dirigentes Alberto Sneider Centeno, Milton Joel Martínez Álvarez, Suami Aparicio Mejía e Alber Sentana Thomas da Comunidad del Triunfo de la Cruz, departamento de Atlântica, na costa caribe do norte do país. Eles foram raptados no sábado, 18 de julho, por um contingente fortemente armado e identificado com indumentária da Direção de Investigação da Polícia, sem que até o dia de hoje se tenha informação de seu paradeiro; ao mesmo tempo a preocupação é crescente pelas repetidas ocasiões nas quias com vestimenta oficial dos organismo de segurança do Estado, se comentem crimes contra a cidadania sem que nenhuma investigação consiga dar com os responsáveis.

A origem do problema é a Propriedade Comunitária que as comunidades negras garífunas de Honduras exercem sobre porções de praia apetecidas por projetos turísticos de capitais transnacionais, mas também pelo exercício de poder que cartéis do narcotráfico necessitam na região para garantir sem problemas o transporte de drogas. Em outras ocasiões moradores dessas regiões foram testemunhas de desembarques de carregamentos ilícitos, pelo que sofreram ameaças, perseguição e também assassinatos.

A campanha internacional pelo aparacimento com vida dos companheiros teve eco nas organizações sociais mesoamericanas que conformam ALBA Movimientos. Estas realizaram foros virtuais e uma ampla discussão sobre o deslocamentos e o despojo de territórios ancestrais das comunidades indígenas na região e em particular o qual estão enfrentando os irmãos/ãs garífunas do país. O denominador comum é a imposição dos interesses privados de grandes capitais que aspiram apropriar-se de suas terras, paisagens e suas riquezas naturais.

É importante destacar também que uma delegação da organização de juventudes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) do Brasil, chamada Juntos, visitou nesta semana a embaixada de Honduras em Brasília, deixando uma carta na qual se pede ao Estado de Honduras, celeridade nas investigações sobre este fato abominável que não pode ficar na impunidade. Foi realmente gratificante ver como a solidariedade militante daqueles/as que lutam por uma mudança social teve também resposta nessas latitudes.

A justiça em Honduras padece de uma instrumentalização cada vez mais descarada por parte das elites que apoiaram o golpe de estado e que tiraram as arcas públicas ao longo de 11 anos; os atos de corrupção que se converteram em escândalos tiveram um tratamento midiático que persegue o esquecimento e a impunidade sobre estes atos. O mais recente e que serve de exemplo do qual afirmamos, é a suspensão definitiva de 22 deputados/as do Congresso Nacional pelo saqueio de mais de 300 milhões de lempiras (Aprox. 13 milhões de dólares) da Secretaria da Agricultura e Pecuária, com os quais se financiaram campanhas eleitorais dos partidos tradicionais. Isso faz pensar que a situação das comunidades garífunas não será tomado em conta senão é por uma forte campanha nacional e internacional que pressione por uma investigação efetiva. Em geral os efeitos da pandemia causaram o aprofundamento das assimetrias sociais, o sistema econômico capitalista é essencialmente concentrador da riqueza socialmente produzida: as condições de vida a população em geral estão se vendo afetadas pela crise natural da injustiça social que gera o sistema e seu modelo neoliberal que extrema as condições do desenvolvimento do capital privado frente ao interesse público; é nestas condições que os trabalhadores/as, as populações originárias e os marginalizados/as sofrerão ainda mais caso não consigam se organizar, demandar direitos e frear os abusos que estão sendo cometidos.

A urgente necessidade da articulação de todas as forças de oposição ao sistema e ao modelo, pela necessidade de construir uma sociedade diferente, que tenha no centro de seus propósitos não ao capital mas ao ser humano, dever ser tarefa das organizações que analisam a origem das contradições e que são conscientes da matriz destas injustiças. A agressão cometida contra os irmãos garífunas senta um terrível precedente para esta nova etapa da luta de classes em Honduras e também na região, pelo que a luta para que apareça com vida e se castigue os responsáveis é uma obrigação de todos e todas.

(•)Dirigente do Partido Libertad y Refundación.

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