|
oliviab
image_pdfimage_print

O governo da ultradireita boliviana, autointitulado “de transição”, não conduz a nação andina a uma saída democrática. Pelo contrário, criminalizando seus oponentes, encarcerando e ameaçando líderes políticos, sindicais e populares do golpeado Movimiento Al Socialismo, obrigando ao exílio o ex-presidente Evo Morales, ministros e dirigentes que haviam sido democraticamente eleitos, fecha cada vez mais o regime e acentua seu caráter autoritário enquanto ataca conquistas históricas do povo trabalhador e aplica por tabela as reformas neoliberais ditadas pelas multinacionais e governo ultradireitista do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As eleições presidenciais, que deviam ser realizadas no primeiro semestre de 2020, foram adiadas, depois anunciadas para 6 de setembro, e agora o governo e seu tribunal eleitoral a postergam para 18 de outubro.

O governo “transitório” de Añez está se convertendo em permanente, ao completar quase um ano no poder. A Covid-19, que castiga fortemente a nação, encontra o sistema de saúde desmantelado pela falta de investimentos, a não aquisição de equipamentos, a falta de kits de testagem e a corrupção de agentes públicos que deveriam cuidar de seu povo.

Com a desculpa da pandemia, o governo quer ganhar tempo para poder encontrar uma saída que não seja a vitória do Movimiento Al Socialismo nas eleições. Mas as classes dominantes, que sofrem uma profunda crise, não se colocam de acordo sobre quais candidatos e alianças poderiam derrotar o MAS. O candidato do partido de Evo, Luis Arce, lidera as pesquisas eleitorais, seguido do neoliberal Carlos Mesa; só em terceiro lugar é que aparece a golpista Jeanine Áñez.

Mas o povo resiste, como já ocorreu frequentemente na história da Bolívia. Enquanto escrevemos este artigo, uma greve geral convocada pela Central Obrero Boliviana (COB) e protagonizada pela Federação dos Mineiros já entra em seu quinto dia de plena vigência, com cortes de estrada, bloqueios e intensas mobilizações, além de acampamentos da juventude em frente ao tribuna eleitoral. Segundo o diário La Razón, até o dia 06 de agosto, já totalizavam ao menos 75 pontos de bloqueio em todo o país. A demanda política principal é a manutenção da data eleitoral em 6 de setembro.
A partir da arrancada de manifestações dos movimentos sociais desde o final de julho, surgiu o Pacto de Unidade, uma iniciativa votada num cabildo popular, onde organizações sociais, de trabalhadores, de direitos humanos decidiram promover a greve geral para apressar a realização das eleições. As populações de El Alto, Cochabamba e Santa Cruz responderam em peso ao chamado.

No meio da tarde desta sexta-feira (07/08), Evo Morales fez a seguinte denúncia em suas redes sociais: “Gesta-se um novo golpe de Estado na Bolívia, cujo plano está sob responsabilidade dos generais Ortiz e Orellana. Tenta-se instaurar um governo de civis e militares. Com esse fim, chegaram dois aviões com armas desde os EUA e se deslocaram franco-atiradores a El Alto e Chapare. Condenável que o governo de facto envie franco-atiradores à cidade de El Alto e para o Trópico de Cochabamba para que atuem contra grupos cidadãos que defendem eleições e democracia. Pretendem usar armas de calibre 22 e 25 para culpar os Movimentos Sociais pelos enfrentamentos”. Por outro lado, a presidenta do Senado, Eva Copa (MAS) adotou um discurso mais conciliatório ao declarar à imprensa que não enxerga viabilidade em realizar as eleições em 6 de setembro e que o Parlamento se ocupará de encontrar uma mediação entre as partes.

Seja qual for a linha estratégica dos partidos de oposição em defesa da democracia na Bolívia, a saída repressiva e autoritária que as elites bolivianas estão pretendo aprofundar no país, em conluio com o imperialismo estadunidense, só poderá ser contundentemente rechaçada com a continuidade e massificação dos movimentos de rua, a exemplo do que vêm fazendo os sindicatos mineiros. E do ponto de vista externo, cabe à esquerda socialista coordenar (na unidade mais ampla possível com os setores democráticos e progressistas do continente) desde já uma campanha internacional de solidariedade ao povo boliviano, exigindo que os militares da Bolívia voltem para a caserna e que novas eleições sejam enfim realizadas o quanto antes com a presença de observadores estrangeiros de reputação ilibada.

Sabedores de que neste momento em solo boliviano se desenrola uma das batalhas mais importantes do continente contra a extrema-direita mundial – batalha que se conecta com o round decisivo das eleições estadunidenses em que Trump tem que ser derrotado, sim ou sim! -, o Observatório Internacional da Fundação Lauro Campos e Marielle e a Secretaria de Relações Internacionais do PSOL estão mobilizando todos os meios a seu alcance para fortalecer o lado dos trabalhadores e dos setores oprimidos de nosso país vizinho. Chamamos aos nossos aliados em toda a América a se somarem a essa campanha.

Permanecemos confiantes na velha máxima de que “não há mal que sempre dure” ante às lutas populares e que caberá ao movimento de massas colocar Áñez, Bolsonaro e Trump no seu devido lugar, ou seja, a lata de lixo da História, como vimos ocorrer com Fujimori no Peru ou mais recentemente com Uribe na Colômbia.

Equipe do Observatório Internacional do PSOL, 07 de agosto de 2020.

Veja também