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FONTE: El Pulso | 14/08/2020 | TRADUÇÃO: Charles Rosa

A campanha começada por setores da chamada “sociedade civil” que tem apoio direto de USAID e outra agência da cooperação internacional, tem sem dúvida um grande apoio popular. Os primeiros têm como linha orçamentária a vigilância, denúncia e acompanhamento de importantes atos de corrupção em Honduras, já que os países do norte identificam este flagelo como um dos principais fatores geradores de migração. Desde cedo os povos também migram ao não ter acesso a oportunidades de emprego, saúde, educação e segurança pública entre outras.

O que começou com um mural em Bulevar Suyapa, frente ao polidesportivo da UNAH, agora tem uma réplica em dezenas de ruas de distintas cidades de Honduras, milhões de réplicas nas redes sociais e pouco a pouco também está reconquistando algumas parede que emudeceram há um tempo. Segundo a consciência dos autores, a mensagem varia de “Onde está o dinheiro? O povo o exige”, passando por “Devolvam o dinheiro roubado”, até “Cachurecos ladrões devolvam o dinheiro”:

O início desta campanha faz recordar a tentativa de primavera centro-americana que começou com a queda do governo corrupto do Presidente Otto Pérez Molina na Guatemala, depois de uma forte campanha que conseguiu uma mobilização popular sem precedentes na República irmã; continuou em Honduras com a mobilização dos “Indignados contra a Corrupção”, na qual o povo gritava a plenos pulmões “Fora JOH!”, demandando a saída imediata de Juan O. Hernández do poder e que terminou com a instalação da efêmera Missão Internacional Contra a Corrupção e a impunidade MACCIH, agora desaparecida e em pleno processo de branqueamento dos poucos casos que conseguiu colocar na opinião pública nos julgamentos do país.

O Novo Código Penal já demonstrou os verdadeiros motivos com os quais foi aprovado pela maioria conservadora do Congresso Nacional; o povo foi testemunho de engavetamentos definitivos para os envolvidos/as no famoso caso Pandora, que implicou a 22 deputados/as no saque de mais de 300 milhões de Lempiras da Secretaria de Agricultura e Pecuária, dinheiro que foi usado para pagar campanhas políticas dos partidos tradicionais – ou o bipartidarismo de Liberais e Nacionalistas – por igual. Hoje também saiu em liberdade outro personagem ligado ao saque dos 7200 milhões de lempiras da Seguridade Social, ou seja, a impunidade é galopante.

A estrutura da justiça em Honduras está estreitamente ligada aos interesses oligárquicos; fui há muitos anos fotógrafo de um meio de comunicação impressa do país, recordo como entre jornalistas falavam dos magistrados/as da Corte Suprema de Justiça; com nome e sobrenome identificavam a cada um com um setor da oligarquia do país: “ela é a peça de tal grupo bancário”, “ele pertence os agroindustriais”, “aquele leva os casos a estes grandes empresários deste ou aquele rumo”, etc. O mesmo se sabe que dos 15 magistrados/as, 7 pertencem ao Partido Laboral e 8 ao Partido Nacional.

A necessidade de criar novas formas de organização, mobilização e protesto levando em conta a existência do coronavírus é cada vez mais latente. Há algumas semanas, dirigentes sociais convocaram plantões, caravanas de veículos e agora pintar as ruas; a ordem do dia é manter o distanciamento físico (nem social, nem político), portar sempre as máscaras, usar com frequência a higiene das mãos ou, em seu defeito, o gel bactericida e fazer um cuidadoso protocolo de entrada ao lar depois de haver estado exposto na rua.

A corrupção como fenômeno de acumulação capitalista num fator que em Honduras – segundo estatísticas do Foro Social da Dívida Externa e Desenvolvimento de Honduras FOSDEH- faz perder por ano ao redor de 75 bilhões de lempiras, aproximadamente 3 bilhões de dólares, o que representa um dado significativo para uma economia como a nossa. Mas além deste fenômeno outras formas de acumulação não entra, na campanha dos organismos de cooperação do norte, como o narcotráfico ou a exploração laboral, com as quais não parece se incomodar demasiadamente.

(•)Dirigente do Partido Libertad y Refundación.

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