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Via Revista Movimento

Hoje uma parcela da burguesia liberal que girou de modo definitivo para oposição ao governo Bolsonaro, chegando ao ponto de defender abertamente o impeachment, teve sua mobilização de rua. Vale uma avaliação desta demonstração de forças…ou de fraqueza.

Para realizar seu ato a burguesia liberal teve apoio direto de uma parte da burocracia sindical mais à direita, notadamente a Força Sindical, e da posição populista burguesa de esquerda ou centro esquerda, para quem preferir, ao redor do PDT e de Ciro. Somou-se também, de modo tímido, o PC do B e a UJS, cujo objetivo foi ir à manifestação para defender a conformação de um movimento unitário de todos os que defendem o Fora Bolsonaro.

Não me interesso aqui por tecer uma análise exaustiva das organizações principais que estavam encarnando a política da burguesia liberal, cujo MBL, neste caso especifico, é o agrupamento mais conhecido. Embora tenha apoiado Bolsonaro e de continuar sendo uma expressão da defesa do neoliberalismo, este agrupamento fez um chamado às forças da chamada esquerda e centro esquerda, aos partidos que se reivindicam dos trabalhadores, como o PT, PC do B, PSOL, assim como as centrais sindicais, para se unirem ao ato. Foi um chamado de última hora, mas chegou a se materializar numa reformulação da política inicial do próprio ato, que de uma posição anti Bolsonaro mas tb anti esquerda, passou a ser mais centrado no Fora Bolsonaro. Nem todos os convocantes, porém, fizeram esta adequação, como o Vem pra Rua, que manteve a palavra de ordem “nem Bolsonaro nem Lula”, numa clara provocação e defesa sem disfarce da tal de terceira via burguesa.

Sabe-se que a maior parte das forças da chamada esquerda (e centro esquerda, se aceitarmos a definição que Haddad mesmo faz do PT) resolveram não aderir, sendo que neste campo ocorreu uma divisão entre aqueles que não foram e denunciaram a manifestação, e os que não foram mas saudaram que os convocantes estivessem finalmente assumindo uma posição contrária à Bolsonaro e seu projeto de desordem, violência e golpe. Esta ultima foi a posição de nossa tendência, defendendo ainda a necessidade de uma rápida ação de todos que queiram lutar pela derrubada do governo para o mês de setembro ou início de outubro. A posição daqueles que denunciaram o ato foi basicamente dos que tem como eixo a campanha de Lula em 2022. Tal orientação se baseava no fato certo de que a origem do chamado foi uma tentativa do MBL de responder à campanha do Fora Bolsonaro e de que também a busca da terceira via foi seu sentido político.

Mas afinal, o que revelou o dia? Qual força foi revelada pelo dia de ação da burguesia liberal? Vimos que os atos tiveram a participação de políticos de peso, como o governador João Doria. Ocorreram em várias cidades. A manifestação se revelou com toda a força que podia. E neste sentido foi uma exposição ousada. A ousadia de se expor. A conclusão é que mostraram sua fraqueza. Foi muito visível que foram fracos, muito mais fracos dos que os atos do MBL no seu tempo de grupo mobilizador contra Dilma e muito mais fracos do que os atos de Bolsonaro do 7 de setembro e de todos os atos da campanha Fora Bolsonaro, cujos partidos mais destacados são o PT, Psol, PC do B, UP, PSTU e PCB. Se pode, portanto, dizer que foi um fracasso. A burguesia liberal mostrou que não tem força para mobilizar nas ruas. Parte das bases de massas do movimento que derrubou Dilma se deslocou para Bolsonaro. Outra parte se desmobilizou e, pelo menos ainda, não resolveu tomar as ruas.

Creio que não tivemos nenhuma surpresa. Por isso também é notável que a burguesia liberal tenha tido a ousadia e/ou o desespero de se expor num terreno que lhes é desfavorável, a saber, as ruas. Neste sentido a leitura não deve marcar apenas a fraqueza. É destacável que tenham sido tão decididos. Foram fracos? Sem dúvidas. Mas daí a concluir que a burguesia liberal não tem nenhuma importância na luta pela derrubada de Bolsonaro seria uma imensa tolice. A força da burguesia liberal não se expressa nas ruas, na sua capacidade de mobilização. Se expressa nas instituições, seja no judiciário, no parlamento, nas universidades, na opinião pública em geral e na mídia em particular.

Então é evidente que as articulações com a burguesia liberal oposicionista e a unidade de ação com a mesma para derrotar Bolsonaro deve ser parte fundamental de uma política de lutas contra às ameaças golpistas e pela queda de Bolsonaro. Esta importância ganha peso quando estamos num momento em que Bolsonaro acenou com um recuo tático que pode lhe fortalecer estrategicamente caso signifique (e já está significando) um novo pacto de coabitação de parcelas importantes da burguesia liberal com o governo. Ou seja, sabendo que há uma divisão na burguesia, vale muito insistir numa política que estimule esta divisão pelo simples fato de que, sem uma parte da burguesia, não há possibilidade de derrocada de Bolsonaro que não seja pela via de uma revolução. E uma saída revolucionária não é o caminho mais provável. Longe disso. O partido mais forte da coalizão do Fora Bolsonaro, no caso o PT, tem como eixo as eleições de 2022, não o chamado à mobilização de rua para derrubar o governo. Este imobilismo se viu em 7 de setembro, com o chamado fraco e de última hora para os atos do Fora Bolsonaro, o que colocou em risco de fracasso o movimento, risco que não se confirmou graças ao tradicional “grito dos excluídos” e a coragem dos ativistas que conferiram dignidade ao movimento, apesar da posição das direções.

O fato de que uma revolução não seja o mais provável e de que não se deve desprezar a importância da unidade de ação com todos pelo Fora Bolsonaro, inclusive com a burguesia liberal, não deve nos fazer abandonar as bandeiras dos trabalhadores e do socialismo. O fato de defendermos as instituições contra as agressões de Bolsonaro, não nos deve tampouco embelezar estas instituições, como se fossem expressões dos interesses gerais do povo, não dos interesses dos capitalistas. No plano econômico também é preciso apresentar as reivindicações de nossa classe, e manter tais bandeiras erguidas no movimento geral e unitário contra Bolsonaro. Neste sentido é fundamental manter a independência. Em primeiro lugar da burguesia, costurando no interior da unidade de ação uma frente das forças que reivindicam a classe trabalhadora e propondo que tal frente assuma a defesa das reivindicações da classe trabalhadora. Mas também independência no interior de uma frente única com os partidos que estão na campanha Fora Bolsonaro, dos chamados partidos de esquerda (ou centro esquerda) particularmente em relação ao PT, já que Lula está buscando a unidade com setores burgueses e construindo um programa econômico burgues para governar o país.

Sendo assim, o que agora importa é a luta para evitar que as liberdades democráticas nos sejam tiradas, lutando nas ruas para derrubar Bolsonaro, nos comprometendo a usar as eleições quando as mesmas se apresentarem, mas nos postulando com um programa e uma política socialista.

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