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Via Revista Movimento

As manifestações do dia 2 de outubro pelo Fora Bolsonaro foram convocadas com bastante antecedência. Não houve improviso. A Polícia Militar calculou em 10 quarteirões ocupados por manifestantes na Avenida Paulista. Foram cerca de 100 mil pessoas. A Cinelândia, no Rio de Janeiro, estava lotada. Em Belo Horizonte, não menos de 80 mil marcharam. No extremo sul, nas cidades do interior gaúcho, também se ouviu o grito do Fora Bolsonaro. Foi assim também em todas as capitais do norte, do nordeste e nas principais cidades em todo o país. No mundo, várias capitais foram palcos de ações de solidariedade à luta no Brasil.

O Dia 2/out convertera-se numa medida de força fundamental. Sem essa ação unificação, a relação de forças nas ruas poderia começar a mudar a favor do governo, apesar da queda de popularidade de Bolsonaro e de seu crescente isolamento, que tem tornado cada vez mais improvável sua reeleição. Sem o dia 2 de outubro na memória das massas ficaria registrado o dia 07 de setembro, quando o Bolsonarismo mostrou sua força de rua, como o principal termômetro das ruas. E as ruas, no Brasil, desde 2013, tornaram-se indicadoras de tendências sociais e políticas profundas, tensionando mudanças institucionais. No dia 07 de setembro, ficou visível que a extrema direita tinha perdido muita capacidade de mobilização, mas que, ainda assim, seu peso de rua existe e, se não tem resposta, sua força tem condições de ser retomada e sobretudo pode se radicalizar mais com eficácia. As ações dos caminhoneiros no dia seguinte, com apoio aberto de setores empresariais, indicou potencial de produção de crise e incidência no curso dos acontecimentos, seja para pressionar as instituições da rarefeita democracia liberal e até para paralisá-las.

Naquele mesmo dia, o movimento democrático do Fora Bolsonaro reuniu um número muito inferior na comparação com o Bolsonarismo. A convocação tímida da coordenação do movimento permitiu que o medo ganhasse mais peso, ainda que as ações de vanguarda tenham sido dignas e não permitiram que as ruas ficassem exclusividade bolsonaristas no dia da independência. Hoje, as ruas foram exclusividade do movimento Fora Bolsonaro. Eis uma grande vitória. Devemos comemorá-la. É uma prova de que nas ruas a oposição tem mais força, não apenas nas pesquisas de opinião. É preciso ser dito que foram menores do que a de outros dias de luta do movimento Fora Bolsonaro. Reuniram mais do que o 7 de setembro bolsonarista, e foram sem dúvida mais nacional. Porém menos simbólica e sem explosividade. E o Bolsonarismo reuniu mais gente em SP. Mas o dia de ação bolsonarista foi sua demonstração máxima de força e concentrado em SP e no DF. O dia 2 de outubro não foi a ação máxima. Isso se deve pelo menos a dois fatores: por um lado, a direção do PT e Lula já adotaram como estratégia principal a disputa eleitoral com o bolsonarismo. A ausência de Lula nas manifestações é a indicação de que o seu trabalho político está concentrado na costura das alianças para vencer as eleições, não nas manifestações de rua. As ruas cumprem um papel complementar na política da direção petista, para manter aquecida sua base social, mas já começando a atrair os espíritos para que tomem o voto como a arma que realmente irá tirar Bolsonaro do poder. Por outro lado, a burguesia liberal não achou um candidato capaz de ter mais força do que Bolsonaro. Sem isso, não se arrisca com impeachment. Enquanto isso, o Centrão usa o governo para seus próprios fins corruptos, e as corporações empresarias torcem e pressionam para que Bolsonaro aplique mais ajustes neoliberais. Embora uma parte da burguesia já tenha embarcado na aliança de Lula, cuja maior expressão intelectual é Delfin Neto, a maioria ainda busca um candidato para chamar de seu. Na ausência dele, não vale avançar com o impeachment. Além disso, Bolsonaro mostrou força dia 7 e avisou que não aceita o impeachment sem resistência nem muito menos a prisão dele e dos seus. A carta escrita por Temer e assinada por Bolsonaro foi um armistício. É preciso ver se dura até as eleições. Mas o sinal de que a burguesia liberal resolveu se afastar do impeachment também acabou esfriando a confiança dos milhões que tem ido às ruas pelo Fora Bolsonaro.

Assim, o dia 2, apesar da vitória representada pelo grito do Fora Bolsonaro tomar novamente as ruas depois de muitas semanas sem ações nacional unificadas, abriu um impasse. Ele pode ter significado a última mobilização real de massas para por Bolsomaro para fora pela força das ruas e ter sido a primeira mobilização eleitoral. Ou pode ser uma retomada, uma nova tentativa pelo Fora Bolsonaro pautado pelas ruas. As forças da superestrutura maiores apostam que as ruas não falem tão alto. Preferem um jogo dominado pelas instituições tradicionais e pelos canais eleitorais. A pulsão revolucionária não tem, até agora, superado tais forças. Podemos dizer que está longe disso. Mas nossa aposta é essa. É uma aposta que pode não lograr mudar a relação de forças e impor a queda do governo sobre os planos das forças com mais peso institucional e eleitoral. De toda forma, vale a pena apostar. Só assim se pode desenvolver forças políticas e sociais que deem base para novas instituições construídas nas lutas e que respondam às ruas. Só assim se pode construir as bases sociais de um programa anticapitalista.

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