Um enorme 8 de março em que as mulheres de mais 40 países recolocaram a palavra “greve” nos centros dos noticiários internacionais. Este foi o fato mais marcante desta semana. O ascenso feminista é evidente e ganhou um salto qualitativo neste 8-M, ao se internacionalizar ativamente.
Em todos os continentes, com destaque para a América Latina, sobraram cartazes e faixas contra o símbolo maior do machismo no presente, Donald Trump, refletindo um novo período de resistência aberto pelo seu governo. Trump, por sua vez, buscou desviar os holofotes, polarizando com a política de espionagem de seu antecessor Barack Obama e reeditando o decreto que fecha as fronteiras do país para seis nacionalidades majoritariamente islâmicas.
Na Europa, os movimentos eleitorais da direita “populista” parecem estar encontrando seu teto, vide a estagnação de Marine Le Pen, ultrapassada agora pelo centrista Emmanuel Macron. Por outro lado, as próximas eleições na Holanda em 15 de março podem reacender o sinal de alerta para uma nova conquista da extrema-direita, com Geert Wilders chegando ao governo. Na Espanha, um grande movimento pela educação sacode às ruas do país.
Por fim, na América Latina, a Argentina vive dias de efervescência dos movimentos sociais e sindicais. A rejeição a Macri e seu signo neoliberal cresce a cada mobilização massiva. Já no México, Lopez Obrador explora a incapacidade de Peña Nieto se contrapor firmemente a Trump, para acumular forças na corrida presidencial de 2018.
Esta edição do Clipping Internacional trata desses assuntos e de alguns outros.
Charles Rosa – Observatório Internacional da Fundação Lauro Campos
NOTÍCIAS DA GRANDE IMPRENSA INTERNACIONAL
8-M: Dia histórico de luta das mulheres
EUA, México, Argentina, Brasil, Inglaterra, Espanha, Polônia, Hong Kong… Por todo o globo as mulheres se levantaram no 8 de março. Confira algumas das melhores reportagens produzidas sobre este evento histórico:
1- A agência France Presse reuniu as melhores fotos dos atos feministas na Polônia, Índia, Paquistão, Argentina e Itália.
2- Nos EUA, as organizadoras da Women’s March foram detidas no Trump International Hotel, após uma ação direta.
3- Já o The Guardian fez uma cobertura bastante abrangente das iniciativas das mulheres pelo planeta neste dia luta.
4- Na Argentina, uma multidão de mulheres compareceu a Plaza de Mayo para cercar o Congresso.
5- No Peru, milhares marcharam pela igualdade de gênero e de oportunidades, com destaque para a deputada Veronika Mendoza.
6- Já na Espanha, 49 cidades organizaram marchas pelos direitos das mulheres.
Trump, Obama e espionagem
Trump mais uma vez surpreendeu a opinião pública ao disparar uma série de ataques contra Barack Obama, acusando-o de ter grampeado seus telefones no ano passado. O jornalista Peter Baker, do NY Times, relata esse novo giro de Trump, que havia elogiado Obama durante a transição.
Ainda sobre o assunto espionagem, o Wikileaks revelou na terça-feira (07/03) uma série de documentos que detalham um sofisticado arsenal tecnológico desenvolvido pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) para espionar smartphones, computadores e até mesmo televisões.
https://www.theguardian.com/technology/2017/mar/07/cia-targeting-devices-smartphones-pc-tv-wikileaks
Trump e decreto migratório
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira uma nova ordem executiva para migração, após a Justiça suspender a primeira versão do decreto que provocou uma onda de indignação pelo mundo.
Já Havaí se tornou o primeiro estado a apresentar um recurso contra a nova versão do decreto migratório que proíbe a entrada de pessoas de seis países majoritariamente muçulmanos (Irã, Líbia, Síria, Somália, Sudão e Iêmen) e suspende a acolhida de refugiados.
Corrida presidencial na França
A um mês do primeiro turno, as tendências reveladas pelas pesquisas indicam uma maior probabilidade de um segundo turno entre o central Emmanuel Macron e a ultradireitista Marine Le Pen, estagnada nas sondagens depois de um ano liderando com folga.
Greve da educação na Espanha
Contra uma nova lei educativa (LOMCE) do governo do PP, milhares de estudantes, professores e funcionários paralisaram as atividades na quinta-feira (09/03), em defesa do fim dos cortes no setor público e na redução das mensalidades no setor privado. Segundo os sindicatos, 65% das escolas aderiram à paralisação.
Eleições na Holanda
Em 15 de março próximo, quarta-feira, a Holanda realiza eleições para a montagem de um novo governo. O centro das atenções é a possibilidade de Geert Wilders, líder do xenofóbico Partido da Liberdade (PVV), sair vitorioso em mais uma conquista da direita “populista” na Europa. As pesquisas, no entanto, apontam que é mais provável que o partido da direita neoliberal, o já governante Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD) , o supere por uma boa margem. Outro resultado previsto que aumente a fragmentação partidária no congresso holandês, aumentando de 10 para 14 formações com representação congressista.
Mobilização sindical na Argentina
Na terça-feira (07/03), 50 mil professores foram às ruas de Buenos Aires reivindicar aumento salarial e contestar a política econômica macrista.
Um detalhe interessante é que os dirigentes sindicais da CGT, maior central peronista do país, foram atropelados pela base, ao tentarem encerrar o ato sem fixar uma data para a próxima mobilização.
Efeito Trump e eleições mexicanas
Antes visto pela burguesia mexicana como um candidato radical, Lopez Obrador, líder nas pesquisas presidenciais, já começa a moderar o discurso junto ao empresariado, como retrata uma matéria do La Nación, replicada pelo Globo.
Lopez Obrador, no entanto, adquire muita força no eleitorado mexicano ao colidir com as políticas xenofóbicas de Donald Trump, algo no qual o atual presidente Enrique Peña Nieto (PRI) vacila frequentemente.
Impeachment na Coreia do Sul
Corte Constitucional confirmou impeachment de Park Geun-hye por escândalo de corrupção. Seus partidários saíram às ruas para protestar e a repressão policial vitimou dos manifestantes.
Rússia e Turquia
Putin e Erdogan tenta estreitar laços econômicos e militares, em reunião no Kremlim que discute a Guerra na Síria, onde divergem sobre a continuidade de Assad. A Rússia deve financiar a primeira central nuclear turca.
NOTÍCIAS E ARTIGOS DE SITES À ESQUERDA
O sistema vencerá? Perry Anderson analisa as dificuldades dos movimentos anti-regime conseguirem derrotar o establishment no próximo período.
Como resistir a Trump? Immanuel Wallerstein tenta responder a essa questão, buscando inserir a atual conjuntura política no plano histórico mais duradouro.
O desespero como uma opção descartada – Bernie Sanders é entrevistado pelo The Guardian e compartilha um pouco de suas opiniões para construir uma estratégia anti-Trump vitoriosa.
O centenário da revolução russa e a luta das mulheres – A socióloga Giovanna H. Marcelino historiciza o dia de luta internacional das mulheres, sem perder de vista a importância da nova onda feminista para a atual correlação de forças da luta de classes.
O cinismo neoliberal sobre o feminismo – Na semana do 8-M, a feminista estadunidense Ella Mahony polemiza com as vertentes neoliberais que tentam “descafeinar” o conteúdo radical da luta das mulheres.
Corbyn é responsável pela debilidade do Partido Trabalhista? O cineasta Ken Loach defende a liderança de Corbyn, relembrando a série de erros cometidos pela direita do Labour Party.
A crise na Coreia do Norte e o jogo duplo das potências – Pierre Rousset prossegue na sua leitura das posições da Coreia do Norte como um campo de batalha das principais disputas geopolíticas do Pacífico (China x EUA).
Barbárie misógina do Estado guatemalteco – No dia 8 de março, mais de 30 meninas morreram queimadas vivas por denunciarem ao mundo sua submissão a abusos sexuais e físicos perpetrados pelo Estado da Guatemala. Retrato vivo da realidade que se impõe às mulheres em toda América Latina.
Quais serão os principais perigos ambientais no futuro próximo? Michael Löwy encara esta e outras questões (como as eleições francesas) em entrevista para o portal Esquerda.net.
Os caminhos do processo revolucionário no mundo árabe – Gilbert Achcar compara os movimentos primaveris do começo da década com a revolução francesa de 1789.