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Fonte: luismatta.blogspot.com – 21/10/2016 – Tradução: Charles Rosa

A central e luminosa Praça Dundas, em Toronto, recebeu no dia 16 de outubro passado, uma grande e animada manifestação pela paz na Colômbia. Turistas e transeuntes locais não esconderam sua surpresa com tantas bandeiras tricolores, acenando ao som de canções e tambores: “A Colômbia quer paz e justiça social…” ou “…apoiamos o acordo de paz entre guerrilheiros das FARC e o governo colombiano”.

A maioria eram jovens, seguidos por um punhado de ativistas de direitos humanos e solidariedade, que foram alegremente ofuscados pelo alvoroço alegre de um jovem que parece despertar de sua letargia.

Jovens, como no Brexit inglês, abstencionistas, no dia seguinte ao referendo, recusaram-se a ser excluídos da União Europeia sem o seu consentimento e exigiram uma nova votação. Agora a juventude colombiana despertou surpresa e indignada com o resultado inesperado do plebiscito contra os acordos de paz entre as FARC e o governo.

Milhões de pessoas oriundas de universidades e faculdades estão agora se mobilizando maciçamente para expressar seu apoio aos acordos e à consolidação de um processo de reconciliação e paz entre colombianos e, principalmente, para a modernização do país com reformas que aprofundem a democracia, a justiça social e a proteção ambiental.

Se não fosse o Não, talvez não tivéssemos conhecido essa nova dimensão, criativa e humanista, da juventude colombiana que desperta de sua letargia abstencionista, e hoje se manifesta com determinação em favor da paz.

Havia motivações extra para este despertar. O Não aos acordos produziu situações embaraçosas que indignaram as pessoas. Tal é o caso da confissão descarada do gerente nacional de campanha do Não, Dr. Juan Carlos Vélez, que numa explosão triunfalista, confessou à imprensa, sorridentemente, que fabricou uma onda de indignação contra os acordos, utilizando mentiras como estas: que se ganhasse o sim, uma ideologia de gênero acabaria com o conceito de família; outros acrescentaram que Colômbia seria um país de homossexuais; que Deus estava com o Não, usando segundo ele, poderosas igrejas evangélicas capazes de motivar entre 2 e 3 milhões de votos; que se esgotaria o papel higiênico e que Colômbia seria castro-chavista; que as guerrilhas tomariam o parlamento, apesar de que são apenas 10 congressistas insurgentes e sem voto, versus quase 300 tradicionais; promotores do Não, indziram a acreditar que se ganhava o Sim, os meninos seriam forçados a fazer sexo oral. Finalmente, o Dr. Velez confessou que a indignação tinha sido estimulada pela distorção do modelo de justiça de transição, focando a propaganda em crimes da guerrilha; a Comissão da Verdade (Já Basta!), disseram que representam 21% dos casos, enquanto 79% são da responsabilidade do Estado e dos paramilitares, contando: despossessão de terras, deslocamento forçado, desaparecimentos, estupros, execuções extrajudiciais como falsos positivos, em que jovens empobrecidos foram enganados com ofertas de emprego fora da cidade, e depois apareceram de uniforme e apresentados como terroristas mortos em combate; os militares foram recompensados com férias, dinheiro e decorações, enquanto o ministro da Defesa e presidente Álvaro Uribe desabafaram com a história de que estavam exterminando os guerrilheiros, catapultando pesquisas e dividendos políticos.

Preferimos a paz em vez da guerra e não mais a corrupção”, uma menina de 17 anos me respondeu claramente, exigindo sabedoria e não mais violência, em apoio aberto aos acordos de paz assinados por Timochenko, das FARC, e Santos, do governo, em 26 de setembro, em Cartagena das Índias.

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